Japão é um caso antigo, a primeira vez que planejamos
visitar esse país foi em 2007. Fizemos roteiro, escolhemos uma agencia de
viagem especializada e tínhamos decidido que as próximas férias seriam para lá.
Bom, aí antes disso eu mudei de emprego. O assunto voltou em 2009, dessa vez
estava tudo certo, data definida, pacote contratado, passagem comprada. Mas quem
mudou de emprego em cima da hora foi o Lucio. Por fim, quando estávamos
voltando de uma viagem no carnaval de 2011 e sabíamos que teríamos férias em 2
meses, falamos novamente em ir para o Japão. Os dois estavam estáveis nos
empregos, previsão de férias a curto prazo, não tinha nada que pudesse dar
errado. E aí aconteceu o terremoto com tsunami seguido do vazamento nuclear de
Fukushima.
Depois dessa terceira tentativa, entendemos que ainda não
era a hora de ir, que tínhamos que nos distrair com outros destinos e deixar o
Japão meio de lado. E assim foi. Esquecemos dele por um tempo, tanto é que ele
nem é top naquela “wish list”.
Finalmente a hora chegou. Que volta ao mundo seria completa
se não tivesse o Japão no roteiro? Mas muito mais que isso, que viagem ao Japão
seria completa se não tivesse a companhia da minha irmã Ligia, da minha mãe e
do querido Marques? Não poderia haver melhor momento, e a espera de todos esses
anos valeu a pena.
Eu e o Lucio chegamos dia 4/7, a Ligia dia 7 e a mãe e o
Marques dia 8. Vamos passar 2 semanas juntos, conhecendo esse país, esse povo e
essa cultura que para mim, ao mesmo tempo que é tão diferente, é tão familiar.
E aconchegante.
Para a minha mãe é a segunda visita ao Japão, a primeira ela
fez com a obatian há 20 anos. Para os demais, é a primeira vez. Acho que
teremos uma boa combinação. A mãe será a guia, trazendo as lembranças, as histórias
do país e as explicações dos rituais e costumes. Além de ter o japonês fluente,
o que muda completamente a relação com o lugar. E mãe é mãe, só de estar aqui
já torna tudo especial. O Marques veio com as palhaçadas, as piadas e a leveza
que sempre está com ele. Não fala um “a” de japonês nem de inglês, mas se
largar ele sozinho no meio de Tokyo, tenho certeza que volta para casa fazendo
vários amigos pelo caminho. Além de ser uma companhia ponta firme nas cervejas.
A Liginha veio sozinha, fazendo um esforço enorme de ficar longe da Bella pela
primeira vez. Trouxe com ela todo o espírito aventureiro que a levou para os
Estados Unidos há 14 nos. Fluente em inglês é a única de casa que fala um pouco
de japonês. Outra companhia que não arreda o pé enquanto a vodca não acabar. E
nós, mochileiros, que vamos fazer todo mundo andar, pegar onibus, metro, trem, acordar
cedo, tomar café da manhã no quarto do hotel, comer comida de rua. Vamos ver no
que vai dar.
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Nós 5 passeando pelo Japão. Day trip em Nikko. |
Monte Fuji
Antes de todos chegarem fomos escalar o Monte Fuji, um dos
cartões postais do Japão com 3.776 metros de altitude. O Fuji-san é dividido em
10 estações, sendo necessárias, em média, 7 horas para subir e 3 para descer. O
programa recomendado de trekking é começar a escalada na 5 estação que fica a 2.305
metros, passar uma noite em uma das cabanas na 8 estação a 3.360 metros,
reiniciar a caminhada às 3 horas da madrugada para chegar no cume no nascer do
sol, às 4h30. A previsão era de tempo bom, nublado com sol no dia seguinte,
perfeito para fazer o trekking e ver o sol nascer.
Saímos de Tokyo direto para a 5 estação e iniciamos a
escalada às 13h30. Foi difícil, muito difícil. Apesar da trilha ser muito bem
demarcada, a subida é muito cansativa. Geralmente, o contraponto do esforço do
trekking é a paisagem, o clima, o ar fresco. O Monte Fuji não tem paisagem, o
tempo estava todo encoberto, com neblina e a altitude tornava a escalada cada
vez mais demandante. Fiquei as 3 primeiras horas pensando porque os japoneses o
escalam, qual a graça do programa. Cheguei a ficar com raiva, raiva da
dificuldade, da resposta do corpo, do vento frio, do suor, do peso da mochila.
Foi só depois de 3 horas, depois de passar por uma névoa bem
forte, que olhei para trás e entendi o porquê as pessoas desafiam o Monte Fuji.
Para ver que as nuvens estão lá embaixo, e você está acima delas. Uma emoção
que me fez esquecer a dureza do percurso por alguns momentos.
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Nós 2 no Monte Fuji, vendo as nuvens lá de cima |
Dormimos na última cabana antes de chegar ao topo, a 3.450
metros de altitude, depois de 5h30 de caminhada. Acordamos às 2h00 e vimos que
estava chovendo bem forte. Mesmo assim, as pessoas estavam se preparando para
enfrentar a chuva, o vento e o frio para cumprir o programa. Ficamos um bom
tempo, olhando a movimentação e conversando se íamos seguir em frente ou não.
É muito difícil chegar tão perto e não continuar a ir em
frente. Mas fizemos a nossa escolha de desistir do topo, mesmo depois do enorme
esforço do dia anterior, escolhemos não correr o risco de uma hipotermia
naquela altitude.
Iniciamos a descida já com dia claro, depois de ver as
pessoas que foram ao topo voltarem e tremerem de frio e de um senhor sendo
resgatado por hipotermia. A previsão era que o tempo piorasse cada vez mais e a
recomendação era que se iniciasse a descida o quanto antes. Saímos às 7 da
manhã no meio da chuva e do vento, assustada com o estado físico das pessoas
que se arriscaram. O mais difícil nesse momento era controlar a mente. Fizemos
a descida em 2 horas, sem paradas para o corpo não esfriar. Só sentimos o corpo
reclamar quando chegamos e estávamos esperamos o ônibus de volta para Tokyo. Voltei
com um vazio, em um período de 24 horas senti a ansiedade de iniciar a trilha,
a dureza da escalada, raiva da situação, emoção por estar ali, cansaço físico,
frustração por não continuar, medo de descer e alívio por chegar bem. Uma
experiência de verdade. Difícil, que valeu pela reflexão.
Tokyo
Iniciamos o Japão por Tokyo, cidade grande, incrivelmente limpa, segura e organizada. Tudo é
novidade, da privada super equipada à poluição sonora de Shibuya. Uma das
coisas que mais me impressionou foi ver tanto japonês junto. De todos os tipos
e fazendo de tudo. O Lucio definiu bem a situação dizendo: “para quem
fala que japonês é tudo igual é porque nunca veio ao Japão”.
Para mim, tem uma relação especial, me lembra muitas coisas
da infância e de quando eu ainda morava com meus pais e tinha meus avós vivos.
Algumas palavras que ficaram por anos esquecidas, os gestos e cumprimentos,
banho de ofurô, dormir de futon, as tranqueirinhas das lojas de 100 ien que a
obatian trazia (nossas lojas de 1,99), a comida de mãe tão reconfortante...
enfim, estou conhecendo minhas raízes e um pouco mais de mim mesma.
Foi uma
semana incrível. Mudar do ocidente para o oriente, conhecer minhas raízes, desafiar
o Monte Fuji, encontrar meus familiares. Um começo maravilhoso na terra do sol
nascente.
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Nós 2 no cruzamento de Shibuya, o maior do mundo |
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Nós 5 no Palácio Imperial |
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