Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

sábado, 12 de julho de 2014

Estou de cabeça para baixo

Bom pessoal,

Estamos em Tóquio, do outro lado do mundo e eu estou de cabeça para baixo. Eu explico, aqui tudo é ao contrário, os caras dirigem do lado errado do carro e pela contramão, leem livro de trás pra frente e de cima para baixo, o metro chega na estação pelo lado errado, a porta do ônibus é do outro lado e a do banheiro abre pra fora. Toshiba é elevador e Mitsubishi é micro-ondas. Com tudo isso perdi meu norte. Nunca sei exatamente aonde estou ou para que lado devo ir. Peguei duas vezes o metro para o lado errado, sai da estação pela porta dos fundos, demorei muito para entender o mapa da cidade. Isso nunca me aconteceu e vou colocar a culpa na diferença de fuso, na falta de sono, no fato de as ruas não terem nomes e as estações de metrô serem gigantescas (Shibuya tem mais de 20 saídas e Shinjuko não deu pra contar). Mas nada como estar perdido em Tóquio. Estou adorando e me sentindo muito à vontade. Na verdade nada disso me causou espanto ou surpresa por dois motivos muito simples: o primeiro é que venho me “aclimatando” para conhecer o Japão desde os meus 14 anos quando conheci/encontrei minha família japonesa, a família Shibata. Em todos esses anos, com ela aprendi muitas coisas sobre o Japão: cultura, costumes, hábitos, diferenças e curiosidades. E me habituei a eles. E gosto deles. E claro que tenho outra família japonesa, a família Sakurai, da Raquel. E as duas famílias (de um lado) tem uma mesma origem, a família Hiramatsu, com isso ganhei também vários tios, tias e primos e primas, sobrinhos e sobrinhas. Me considero realmente parte dela. Sou parte dela. E o outro motivo é que aqui tem mais restaurante japonês que em São Paulo. Dá pra acreditar? Existe coisa melhor? Como não se sentir em casa?



Chegamos por aqui na sexta e fizemos o tradicional reconhecimento de terreno. Fomos até Akihabara, o centro de eletrônicos de Tóquio. No sábado fomos para Shinjuko e Shibuya. O primeiro tem a maior estação de metrô de Tóquio e foi onde compramos as passagens para o Monte Fuji e o segundo é conhecido como bairro de compras e onde tem o cruzamento mais movimentado do mundo. Muita luz, cor e gente. No domingo fomos para o Monte Fuji. A ideia era subir o Fuji até o topo (3.776 m) em dois dias: no primeiro dia subiríamos até a 8° estação (são 10) e no segundo, ainda de madrugada terminaríamos o trajeto e viríamos o nascer do sol lá de cima. E dormiríamos em alojamentos na montanha (na verdade o Fuji é um vulcão ativo).



Conforme planejado, subimos o Monte Fuji até a estação 8,5 (mais próxima do topo) no primeiro dia, onde dormimos. A caminhada foi dura. Seis horas para subir 900 metros na vertical. Muito cansados fomos dormir as 20:00. Mas durante a noite o tempo virou e começou a chover e ventar muito. Para chegar no topo antes do nascer do sol é preciso sair do alojamento as 3:00 horas da manhã, pois o sol nasce as 4:20. Acordamos as 2:30 e a chuva, o vento e o frio lá fora estavam muito grandes (a estação fica a 3.440 m). Como o tempo estava fechado impossibilitando ver o nascer do sol, decidimos voltar a dormir e, com dia claro, mais quente, continuar a subida. Quem sabe a chuva dava uma trégua!!?? Não deu. Acordamos as 5:00 e a chuva continuava. E enquanto decidíamos o que fazer, já que não tínhamos calças a prova de água, começaram a chegar as pessoas que, a despeito da chuva, saíram na madrugada para ir ao topo. E as caras não eram boas. Algumas pessoas tremiam mais que motor de geladeira, com as roupas encharcadas, sem novas secas para trocar. Não foi muito animador. Até que, para acabar com nossas dúvidas, chegou um senhor japonês sendo carregado por quatro pessoas, enrolado em plástico térmico, sendo resgatado. O senhor não tinha mais noção de mais nada. Estava com hipotermia. Trouxeram futons, tiraram toda a sua roupa, enxugaram todo ele, colocaram água quente próximo ao seu corpo e derem chá quente para beber. Minutos depois chegou o resgate e socorreu o senhor levando-o montanha abaixo. O pior não aconteceu, mas aqueles momentos tiraram de nós qualquer intenção de continuar a jornada morro acima. Dali só morro abaixo e com muito cuidado. Perguntamos no alojamento se deveríamos aguardar o tempo melhorar e ele nos respondeu que o tempo só iria piorar e o melhor a fazer era descer o quanto antes. Chovia e ventava muito mas a cada passo que dávamos na direção de baixo a temperatura aumentava e diminuía o desconforto de ter todas as roupas molhadas. Tínhamos o receio de com as roupas molhadas não conseguir aguentar o frio. Mas foi tudo bem, não houve problemas nenhum e logo estávamos na estação 5, ponto de partida da aventura. Viemos de muito longe para subir o Fuji e chegamos a uma hora de caminhada do topo, mas não fomos. Com natureza não se brinca. Quem sabe da próxima vez.




Voltamos para Tóquio e tomamos um bom banho quente. Depois fomos receber a Lígia, irmã da Raquel que estava chegando para passar as próximas duas semanas conosco. Na manhã seguinte fomos na embaixada da China para solicitar o visto de entrada (iremos para lá no início de agosto) e à tarde fomos receber da Tia Mimi e o Marques (mãe da Raquel e namorado) que também vieram passar essa etapa da viagem junto com a gente. 



Estamos conhecendo Tóquio e não só os pontos turísticos como parques, templos e palácio mas também as lojas de departamento, lojas de 1 dolar (rakuen), supermercados, farmácias. Mas isso vai ficar para o próximo.

Valeu.

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