Bom pessoal,
Chegamos em Quioto no domingo à
tarde e fomos direto para o hotel ou melhor para a Ryokan: tradicional pousada
japonesa. Os sapatos ficam na porta de entrada (que nunca é trancada mesmo sem
ninguém na recepção), o quarto é de tatame e o colchão é um futon, a mesa é baixa
e senta-se no chão, o banheiro é compartilhado e a cozinha está a disposição de
todos, inclusive da família que é dona e mora também ali. Eles usam as mesmas
facilidades. Nosso quarto era grande e ficamos eu, a Raquel e a Ligia em um e a
Tia e o Marques em outro. Ficamos no térreo perto do banheiro e da cozinha. Em
relação a hospedagem uma das melhores experiências que já tive. Muito
tradicional no Japão. Quioto foi a capital do Japão mas é a eterna “Velha
Capital” e a “Cidade dos Samurai”. Musashi viveu aqui. O primeiro jantar tinha que ser especial: comemos sashimi em um restaurante chique, caro e
delicioso. Os melhores peixes até o momento.
Ficamos apenas 4 noites e tivemos que escolher o que ver e o que deixar para a próxima vez pois é
impossível ver tudo em tão pouco tempo. Além disso, nesse mesmo período ainda
tinha o maior festival da cidade (e um dos três maiores do Japão), o Gion
Matsuri. Elencada as prioridades, no dia seguinte seguimos para o Templo Dourado.
Um pequeno templo, dourado, que com o a luz do sol deve até cegar (mas estava
nublado), no meio de um lago e cercado de um belíssimo jardim. De lá seguimos
para a Rua de Bambu que é quase fora da cidade. Valeu pelo inusitado, mas é
apenas uma rua com bambuzal dos dois lados que transforma toda a área numa
verdadeira floresta amazônica de tão abafada e quente que fica. E ainda bem que
o dia estava nublado. Seguimos então para a parte central da cidade para
almoçar, comemos um Tonkatsu maravilhoso e voltamos para a ryokan para descansar pois o dia estava realmente quente e abafado. À noite fomos para a
primeira noite do Gion Matsuri. Muitas barraquinhas de comidas nas ruas, muita
gente e também os carros alegóricos com suas lanterna e cores. Mas nesse dia as
principais ruas ainda estavam aberta para os carros.
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Templo Kinkaku-ji, o Templo Dourado |
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Rua de Bambu |
No dia seguinte fomos para Nara,
cidade que tem um dos templos mais importantes e antigos do Japão, o Todai-ji.
O Tori da entrada do templo já impressiona e quando você entra no pátio onde
está o templo é tudo muito grandioso. É tudo gigantesco. É impressionante. O
tamanho das portas, a altura, os detalhes, tudo. E dentro do templo tem o maior
Buda que já vi. É o maior Buddha Vairocana de bronze do mundo (http://www.sacred-destinations.com/japan/nara-todaiji).
Ali orei, agradeci por tudo e pedi mais um pouquinho de proteção. Nunca é
demais. Depois seguimos um roteiro sugerido pela Ligia: Osaka, a segunda maior
cidade do Japão. Compramos bentô na estação de Nara e pegamos o trem. Chegamos
em Osaka e seguimos direto para o mercado de rua chamado Namba. E mais uma vez
me surpreendi com uma rua só de comidas, só de restaurantes. Cada restaurante
mais chamativo que o outro com caranguejos, polvos e baiacus gigantes nas
fachadas. Osaka é conhecido pelas comidas e comemos num restaurante de esteirinha (aquele que os sushis vem em pratinhos
numa esteira que passa por todo o restaurante). Osaka foi uma grata surpresa
pois não estava no roteiro. Voltamos para Quioto de Shinkansen e ficamos na
ryokan esta noite.
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Templo Todai-ji |
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Buddha Vairocana de bronze |
No dia seguinte seguimos, somente
eu e a Raquel, para conhecer a floresta com 10.000 Toris vermelhos. O lugar
chama Fushimi Inari Shrine e é ponto obrigatório. A estação de trem é bem em frente ao templo
principal e início dos Toris que estão coladinhos um no outro fazendo um
corredor montanha acima. E dá-lhe escada. No total foram quatro quilômetros num
calor dos infernos (suei tanto que parecia que tinha feito xixi nas calças). Nos
encontramos novamente com os três em Quioto e seguimos para conhecer os 1001
Budas no Sanjusangedo Hall e depois fomos para mais um impressionante templo: o Kiyozumi-dera. Um templo suspenso por toras de madeira na beira de
um penhasco. Bem em baixo dele tem uma fonte onde se encontra a água mais pura
do Japão de acordo com a tradição. Entramos na fila e enchemos nossas garrafas. Naquele
calor poderia colocar uma rede debaixo da fonte e ficar o resto do dia.
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Fushimi Inari Shrine |
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Templo Kiyozumi-dera |
À noite
fomos na festa de rua da véspera do dia do desfile, que o ponto
alto do Gion Matsuri. As ruas estavam lotadas de gente e barraquinhas de
comida. Agora todas as ruas estavam fechadas e havia tanta gente que tinha até
mão e contramão para se caminhar. No outro dia fomos ver o desfile dos carros que
eram puxados por mais de 30 homens. O carro é tipo uma carroça gigante, alta e no
topo tem uma bandinha. E o melhor de tudo é ver eles fazendo a curva no final
da rua, já que o carro não tem giro. Eles literalmente arrastam o carro de lado
encima de esteiras de bambu ao som dos sinos e tambores e dos huuuuu e aplausos
dos espectadores. Nesse mesmo dia fomos para Hiroshima com a Tia e o Marques e
tivemos nossa primeira despedida. A Ligia voltou para Tóquio e no dia seguinte
voltou para Nova York onde mora. Foi muito bom ter sua companhia nesses dias no
Japão. Primeiro pela companhia, segundo pelas bebedeiras e depois pelas
traduções em supermercados e restaurantes. Andar com tradutora deixa tudo mais
fácil. Arigato Gozaimasu.
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Gion Matsuri |
Em Hiroshima, no dia seguinte
fomos primeiro conhecer a cidade de Miyajima onde tem um Tori e um templo no
mar. Quando a maré sobe o templo fica como se fosse uma ilha. Tudo em vermelho
alaranjado bem chamativo. Muito bonito. E depois do almoço fomos conhecer o
museu da Bomba Atômica e depois o Domo, que resistiu aos efeitos da explosão
apesar da proximidade, em Hiroshima.
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Miyajima |
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Tori gigante |
A bomba, lançada ha 69 anos atrás, teve um
efeito devastador na cidade. Mais de 140.000 pessoas morreram antes de
completado o primeiro mês. Menos de 20 prédios em um raio de 2Km ficaram em pé.
Foi um ataque surpresa, sem aviso prévio. Hoje o Japão reconhece o mal que fez
em outros momentos de guerra e acredita que isso foi uma lição (está no museu).
Hoje não existe exército no Japão. Na Praça da Paz existem dois monumentos
principais (além do Domo): o primeiro é um altar seguido de um espelho d´água e depois uma
chama eterna. O espelho d´água é uma lembrança a todos aqueles que morreram por
falta de água. Muito simples e muito forte. E o outro é um sino com um Tsuru embaixo. Tsuru é um origami de uma ave sagrada, diz a lenda que ela vive 1.000
anos e caso você faça mil origamis, você terá um desejo atendido. E virou
símbolo de esperança e perseverança depois da história de uma menina que viveu
aqui. Quando a bomba estourou, Sadako tinha dois anos e aos 12 descobriu que
tinha leucemia. Ela escutou sobre a lenda e passou a fazer os origamis na esperança
de sobreviver. Ela morreu antes de completar os 1.000 Tsurus dos efeitos da
radiação. Mas os amigos terminaram e ainda fizeram uma campanha de arrecadação
que juntou dinheiro e construiu o monumento na praça. Já fiz muito Tsuru uma
vez. A Talita, minha sobrinha japonesa, teve um momento muito difícil e toda a
família fez Tsurus para ajudar. Fizemos no total uns 4 mil Tsurus. Na saída do
hospital ela doou três mil Tsurus para as outras crianças pois ela só precisava
de mil. Ela tinha apenas 8 anos. Hoje ela é uma moça, linda, está na universidade,
namorando e só os pais, Edidio e Sayuri, acham que ela ainda é um bebê. Coisa
de pai e mãe.
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O Domo |
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Praça da Paz |
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Tsuru |
No dia seguinte chegou o momento
de se despedir da Tia e o Marques. Eles foram para Tóquio e nos para Fukuoka e
depois Ishigaki, Okinawa. Seguimos para a estação, compramos um bentô e nos
despedimos com um grande aperto no coração. Foi muito especial encontra-los no
Japão, escutar as histórias dos seus pais e conhecer um pouco mais dessa família
que me adotou.
Valeu.
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