Seguimos caminhando pelo Camboja, um país
marcado pelo governo comunista Khmer Vermelho que exterminou 1/3 da população entre
1976 e 1979. Os que não foram levados para os campos onde foram submetidos ao
trabalho escravo foram perseguidos e torturados, caso daqueles que tinham
estudo ou dominassem qualquer arte. Na verdade até quem usava óculos já era considerado
inimigo da revolução. As conseguencias são visíveis por onde andamos, um país pobre,
ruas sujas, muitos pedintes, com um dos piores índices de corrupção do mundo.
Visitamos cidades que descobriram no turismo uma
forma de ganhar a vida e isso significa colocar toda a família para vender
alguma coisa, de pulseirinha de tecido a qualquer tipo de droga, de crianças a
idosos. O Lucio brincou que a primeira palavra que as crianças aprendem é “one
dólar” e depois “two for one dólar” e por ultimo “three for one dólar”. Entre
uma venda e outra elas brincam com o que tem, sempre descalços e ranhentinhos.
Um dia andando pela rua de Siem Reap vi 2 crianças que vestiam uma caixa de
papelão e brincavam como se estivessem com armaduras de robôs. E se divertem
como se a guerra nunca tivesse existido, e depois voltam repetindo
exaustivamente “one dólar”.
Começamos pela capital Phnom Penh, cidade
grande não muito acolhedora. Visitamos o Palácio Real e andamos pela cidade, nas
margens do Rio e pelo Mercado Central. Para conhecer um pouco da Guerra fomos
ao Museu do Genocídio Tuol Sleng, uma antiga escola que foi transformada em
prisão onde as regras eram bem simples: responda imediatamente o que eu te
perguntar, não me conteste, obedeça todas as minhas ordens e não grite enquanto
estiver sendo torturado. As salas de tortura e as celas minúsculas ainda
permanecem para mostrar toda a brutalidade da época.
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Palacio Real |
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Celas dos prisioneiros da guerra |
Esse é o terceiro museu de guerra que visitamos
nessa viagem, o primeiro foi em Hiroshima e depois o de Saigon. São visitas
pesadas que me deixam impressionada com o “quanto vale uma vida”. Sempre
acreditei que esses tipos de museus eram importantes para não repetirmos os
mesmos erros novamente, mas talvez a maior crueldade seja não aprender com eles e continuar a repeti-los, de forma cada vez mais brutal.
De lá fomos para Siem Reap, cidade base para os
templos de Angkor. O Parque Arqueológico é imenso com várias ruínas datadas dos
séculos IX ao XV. Diversos templos de características únicas, todos de pedra, enormes
e imponentes. Foram 3 dias andando de templo em templo, daquele jeito que eu
gosto tanto, contemplando e sentindo.
O mais conhecido, declarado como uma das 7
maravilhas do mundo é o Angkor Wat, considerado o maior e mais bem preservado monumento
religioso do mundo. Fomos lá nos 3 dias, no primeiro para conhece-lo, no
segundo para ver o nascer do sol e no terceiro para ver o pôr do sol. Nesse
último dia, sentados à beira do lago e apreciando a beleza do lugar o René nos
perguntou se tínhamos nos dado conta de quão longe estávamos do Brasil. E aí
parei para pensar no quão único era aquele momento, de estar lá, privilegiada
por o que uma volta ao mundo pode proporcionar mesmo depois de 9 meses pelo
mundo afora.
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Angkor Wat |
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Nós 2 |
No segundo dia acordamos cedo para ver o nascer
do sol atrás do Angok Wat. Não foi lá aquele nascer do sol, mas o melhor foi
começar a explorar os templos logo em seguida e ter a oportunidade de sermos os
primeiros a entrar e tê-lo todinho para nós. Contemplar e sentir em dobro.
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Nós 4 de manhãzinha no templo todinho nosso |
A ultima cidade que visitamos foi Battambarg,
uma cidade maior do que eu imaginava na qual a principal atração era passear
pelas vilas ao redor. Contratamos um tuk tuk e fomos conhecer os principais
pontos turísticos. Andamos no trem de bambu, visitamos um templo, subimos uma
montanha e deixamos o melhor por último: uma revoada de bilhões de morcegos que
todos os dias saem da caverna em busca de alimento pontualmente às 17h50 formando um desenho
de serpente no ceu durante uns 30 minutos. Mais um espetáculo para nossos
olhos.
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Trem de Bambu |
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Nós 4 no passeio em Battambarg |
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Revoada dos morcegos |
Voltamos para Sien Reap de barco, uma viagem de
9 horas, em um rio estreito e cheio de curvas. Frio, barulhento, desconfortável
e lento. Passamos pelas vilas em torno do rio com as casas de palafita muito
simples observando a vida como ela é. Os tradicionais hello e bye bye das crianças
deixaram o passeio mais alegre. Mas não menos duro.
Comer foi uma diversão, não tanto pela comida,
que apesar de boa não tinha nada de muito especial, mas sim pela companhia da
Anita e do Rene que adoram a hora de comer, assim como nós. Com 2 casais mão de
vaca não podia dar outra, sentávamos nos restaurantes mais baratos que
encontrávamos e nos deliciávamos com o amok (uma peixada com leite de coco),
fried noodles e arroz com frango. Religiosamente tomando café da manhã,
almoçando e jantando todos os dias. Um dia encontramos uma balança e todos se pesaram, menos eu, afinal o que os olhos não veem o coração não sente.
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Arroz com frango, super simples |
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Amok de peixe |
No ultimo dia no país nos despedimos dos dois depois
de quase 1 mês viajando juntos. Nos identificamos logo de cara, foi um alento
para a alma encontrar um pouco da cultura latina, falar a mesma língua mesmo
que em línguas diferentes. Um casal muito querido, divertido, leve, descomplicado, que passa
pelos mesmos perrengues mochileiros que a gente e que valoriza as coisas
simples da vida. Anita e Rene, obrigada por compartilhar nossas viagens, nossos
sonhos e nossos devaneios, foi uma companhia muito amável que vamos carregar para sempre em
nossos corações.
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Nossa despedida, na guest house |
Foi uma passagem rápida pelo Camboja, o
suficiente para os principais pontos turísticos, mas insuficiente para me
deixar envolver. Valeu pelas ruínas de Angkor, pela companhia dos amigos
chilenos, pela comida boa e cerveja barata. E continuamos caminhando, cada vez
mais para o sul da Ásia.
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