Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Índia: Segundo Tempo

Bom pessoal,

De Delhi seguimos para o Rajastão. Fomos conhecer principalmente as cidades de Udaipur e Jaipur. Como Udaipur é bem distante de Delhi fizemos uma parada estratégica na cidade de Pushkar. A estrada era bem melhor que a outra mas mesmo assim nada muito animador. Talvez daqui a 5 anos esteja finalizada porque hoje ela está em todos os estágios da construção, dependendo do trecho. Com isso a velocidade média é de 50 Km por hora. Haja saco.

Chegamos depois das 4 da tarde e eu estava bastante cansado e com fome. Ainda não estava gostando nada da Índia. Pushkar é uma cidade pequenininha como Rishikeshi, mas ao invés de um rio sagrado eles tem uma lago sagrado. O lago artificial fica no meio da cidade. Deixamos nossas coisas no hotel e seguimos para o centrinho onde estão os restaurantes, lojas, templos e o lago. Além disso tem muitas pessoas tentando te aplicar mais um golpe: eles te oferecem pétalas de rosas, quando você recusa eles dizem que não são para você, são para os deuses, por respeito e quando você aceita eles te “exigem” até 1.000 rupias (ou 170 dólares). Já conhecíamos e não caímos nessa. Fomos conhecer primeiro o Templo Brahma. Não, não é o templo da cerveja, Brahma é o deus-criador do hinduísmo, e somente a Raquel conheceu. Um dos ditados que temos que aprender quando conhecemos outras cultura é: “Minha casa, minhas regras”. No templo não se pode entrar calçado, com câmeras ou mesmo mochila. Não ia deixar minha mochila num box na rua. Ainda não estou à vontade com nada imagina confiar nesse tipo de serviço. Depois fomos almoçar e ver o pôr-do-sol da escadaria do lago. Foi bem bonito por causa do sol e do som. Tinha um grupo de percussionistas que tocou até o sol se por. Muito bonito, mas a maioria das pessoas, principalmente os indianos, ficaram mais interessados em uma menina (ocidental) que estava dançando com um bambolê ao som da percussão. Os indianos ficaram hipnotizados. Tem muitos ocidentais nessa cidade e quase todos com cara de bicho-grilo. E eu entendi o porquê no restaurante onde almoçamos: o cara nos ofereceu de sobremesa um bolo de maconha (que recusamos). Não sei se é liberado, mas parece que é livremente consumida.
Pòr-so-sol em Pushkar
Voltamos para o hotel e no dia seguinte mais um dia de viagem até Udaipur. Todas as viagens me deixam estressados. É o trânsito, a bagunça, o desrespeito, a estrada, enfim tudo. Chegamos e só saímos no dia seguinte. Primeiro fomos conhecer um museu a céu aberto que apresentava os vários tipos de povos da índia, suas casas, danças e músicas. Éramos somente eu e a Raquel. Muita atenção pro meu gosto. Não gostei. Dali mudamos a programação que o Gris, nosso motorista, tinha feito e seguimos direto para o centro para conhecer as principais atrações e também para dispensa-lo pois de lá para o hotel não era muito distante. Não gostei da ideia pois uma das coisas que não estou gostando nada é andar por ai, mas prometi fazer tudo que a Raquel tinha programado. Fomos e a cidade antiga de Udaipur foi a melhor cidade que conhecemos até agora. A bagunça é menor, o trânsito mais calmo (só tem uma rua) e as atrações estão todas bem próximas. Andamos pelo centro com muitas lojas de roupas e artesanato e até comprei os imãs de geladeira, que são as únicas coisas que estamos comprando de lembrança dos lugares que visitamos.


Cidade Antiga de Udaipur
Nesse dia fiquei tentando entender o porquê de tanta repulsa em relação a Índia. Já vi miséria igual a daqui, já vi pobreza igual a daqui, tanto em outros países como no Brasil. Então, porquê? Talvez porque aqui a coisa seja mais generalizada do que nos outros lugares? Ou porque, no meu inconsciente, miséria e pobreza (favela e periferia) estão quase sempre associados a risco, perigo e violência, e fico sempre em alerta? Mas nunca vi nenhuma situação de risco ou violência onde andei. Quando saímos de viagem prometi manter os olhos, coração e mente abertos, mas não tá dando. Não sei porque. Mas no décimo segundo dia eu descansei, relaxei. Parei de pensar em tudo e passei apenas a observar a vida como ela é e não como eu achava, arrogantemente talvez, que poderia ou supostamente deveria ser. Voltei a ser eu mesmo. No outro dia fomos conhecer o City Palace, um palácio com mais de 200 metros de comprimento e o lago Pichhola, um lago artificial com duas ilhas que hoje são: um hotel de luxo (exclusivíssimo) uma, e um restaurante (mais popular) a outra. Fizemos um passeio de barco pelo lago e paramos no restaurante para conhecer mas não almoçamos por lá. Ele é popular mas não tanto. Fomos almoçar no centro num restaurante recomendado pelo guia: pequeno com boa comida e muito barato. Muito bom.

Pátio interno do City Palace em Udaipur
City Palace de Udaipur e o Lago Pichhola
No outro dia, mais um dia de viagem. E essa prometia: de Udaipur para Jaipur, mais de 600 quilômetros. Então para não ficar estressado de novo, resolvi utilizar uma técnica que uso no trabalho quando o bicho pega: escutar brega. Fernando Mendes, Paulo Sérgio, Agnaldo Timóteo, Bartô Galeno, entre outros do nosso cancioneiro popular. Quem já trabalhou comigo sabe como é. E como, as vezes, escutar não basta, também quero compartilhar, gostaria de pedir desculpas aos com ouvidos mais exigentes. Mas que saber? Deu certo. 



Forte Amber em Jaipur
Detalhe do Forte



Chegamos em Jaipur no final do dia e não fizemos mais nada. Jaipur é conhecida como a cidade rosa porque em 1876 o Marajá mandou pintar toda a cidade para receber o Príncipe de Gales. Não sei se são meus olhos mas rosa aqui não é exatamente rosa, tá mais pra um vermelho cor de telha, parecido com Marrakesh no Marrocos. No dia seguinte fomos conhecer o Forte Amber, construído no topo de uma montanha e rodeado por muralhas para todos os lados que mais pareciam a Muralha da China, o City Palace e o Hawa Mahal ou Palácio dos Ventos. Andamos um pouco pelo centro e até ri das piadinha que faziam em todos os lugares sobre a minha camisa: uma reprodução da obra “Banana” de Andy Warhol. Parece que todos aqui gostaram da minha banana. Kkkkkkk. Agora é aguardar amanhã para seguir viagem para Agra e depois Varanasi. Mas estou mais tranquilo e à vontade para continuar sem problemas. Mas só para garantir, vou recarregar a bateria do ipod.

Palácio Hawa Mahal
Detalhe de uma porta no City Palace em Jaipur
Um indiano fazendo turismo

Valeu.

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