Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Do céu ao inferno, de Agra a Varanasi

Ah, que linda historia de amor... o Taj Mahal é a maior declaração de amor imortalizada por uma das mais belas construções que já vi. Já tinha visto inúmeras fotos e imaginado como era, mas estar lá, de corpo e alma, absorvendo sua perfeição, ao nascer do sol, foi um momento de pura emoção. E são momentos assim, sublimes, que faz tudo valer a pena, vale a pena estar na Índia, vale a pena encarar um ano de mochilão, vale a pena ter dor de barriga, vale a pena sentir saudades. O Taj não precisa de palavras, é contemplar e sentir. Do jeito que eu gosto.

Ah, o Taj!

Nós 2 no Taj

Além do Taj, Agra tem outros dois fortes. Agra Fort, onde o rei que mandou construir o Taj para sua falecida esposa ficou preso durante 8 anos podendo admirá-lo somente do outro lado do rio, e Fatehpur Sikri, um complexo de castelos onde outro rei (aqui tá cheio de reis) mandou construir um palácio para cada uma de suas 3 esposas, uma hindu, outra muçulmana e outra católica. Mas de verdade, depois de ver o Taj, os outros ficaram sem graça.

Agra Fort e o Taj visto de onde o rei passou seus ultimos dias preso

Fatehpur Sikri, a cidade fantasma. Foi logo abandonada por dificuldade de abastecimento de agua

Em Agra nos despedimos de nosso motorista e fomos de trem noturno para Varanasi. A malha ferroviária daqui é enorme, se vai para qualquer lugar e a passagem é muito barata. Ratos tem aos montes passeando pelos trilhos, teve um que quase subiu no meu tenis (ainda bem que não era uma barata). Aquelas cenas que vemos dos indianos pendurados nos trens... não é tudo isso, mas chega perto. Ainda bem que nosso ticket era a segunda melhor classe do trem que consistia em 2 beliches separadas por uma cortina do corredor de passagem. O trem é mais feio do que eu imaginava mas a viagem foi melhor do que eu imaginava.

Varanasi é a expressão máxima da Índia, em todos os sentidos. Como estávamos de motorista fomos blindados da intensidade da cidade, mas mesmo da bolha pudemos ter uma amostra de tudo que ela oferece. São nos mais de 360 gaths do Rio Ganges que a cidade se constrói, tendo como tema os rituais de vida e morte. Fizemos um passeio de barco às 5h30 da manhã para ver a vida como ela é. Banho, reza, higiene, purificação, cremação, fé. Tudo junto, no mesmo rio sagrado que, para os hindus, possui uma força sem igual. À noite acompanhamos uma cerimônia na escadaria principal, onde todos os dias, ela reúne centenas de pessoas para rezar por paz e amor. Foi bonito, mas mais bonito do que ela própria, foi ver a devoção dessas pessoas.

Nascer do sol no Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges - tranquilidade

6h30 às margens do Rio Ganges - crematório

Oferenda, agradecendo e pedindo proteção

Cerimonia no final do dia

Depois de 19 dias estamos indo embora. Assim que chegamos achei que tínhamos dimensionado mal o tempo, que era melhor ter escolhido só o triângulo dourado (Delhi, Jaipur e Agra). Hoje, acho que fizemos no tempo que tinha que ser, tempo de se chocar, de resistir, de processar, de ver poesia e até de se encantar, por que não? Passamos por 6 cidades, uma diferente da outra, vendo caos, meditação, palácios, Rio Ganges, fé, muita fé. Não gostei de ficar com motorista o tempo todo, mas entendi que, para mochileiros nível básico como nós, foi a melhor alternativa. Gostaria de ter tido mais contato com as pessoas, na verdade gostaria de ter estado mais aberta para uma conversa. O mesmo olhar curioso que temos ao vê-los é retribuído, na proporção indiana, para nós. Eles querem saber de onde somos, entender como uma “chinesa” pode ser brasileira (aqui as pessoas continuam achando que eu sou chinesa), querem tirar foto. Teve um dia que um grupo escolar de umas 30 pessoas nos cercaram e perguntaram se podiam nos fotografar. Falamos que ok sem imaginar que a sessão foto duraria uns 10 minutos com umas 20 cameras apontadas para nós. Um barato. Sempre que eu largava minha armadura e sorria, recebia um sorriso de volta. As pessoas que nos atenderam em hotéis e restaurantes foram de uma gentiliza que não vimos igual nessa viagem.

Sempre me emociono ao deixar um país. São vivências intensas, tão diferentes daquelas que estamos acostumados... algumas são esperadas, outras nem imaginamos. Descobrimos coisas novas e resignificamos outras, dando sentido ao momento atual, até vir novas experiências, e novos resignificados.

Aqui aprendi a agradecer. Tão obvio. Tão simples. Nada obvio.

Quem sabe não voltamos pra cá na nossa segunda volta ao mundo e dessa vez de forma independente? Vai pensando Lucio... 

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