Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Finalmente Nepal

Chegamos no Nepal. E o caminho foi mais longo do que parece: faz três anos que queremos e tentamos vir.

Mas de onde surgiu essa ideia maluca? Foi no aniversário de um ano do Eric, filho da Valeria e do Fábio. Lá nos encontramos com o Daniel Laviola, um amigo em comum que temos e o “culpado”. Ficamos conversando sobre viagens, lugares, até que ele virou e perguntou: E aí, vamos pro Nepal? A Raquel respondeu: pra onde? E eu fiquei pensado o que diabos um sujeito faz no Nepal. O que? E ele respondeu: trekking. E eu continuei pensando: quem tira férias para sofrer caminhando por mais de 15 dias? Até então nossas férias eram quase sempre urbanas.

Saímos de lá e comecei a pesquisar e apender um pouco sobre o Nepal e sobre trekking. Depois de um tempo estávamos totalmente absorvidos e comprometidos pela ideia de ir para o Nepal. E depois de fazer alguns trekkings foi como se um novo horizonte de possibilidades de destinos se abrisse para nós. E essa ideia nos fez mudar completamente nossos destinos de férias a partir desse momento. Depois disso, fomos para a Chapada Diamantina, Chapada dos Veadeiros, Patagônia Argentina, e eu também fui para a Amazônia (a Raquel não foi porque alguém tinha que trabalhar... Kkkkk). Tudo isso meio que como preparativo para “fazer” o Nepal.

Mas não conseguimos ir no ano seguinte junto com o Laviola, nem no outro ano e nem no outro. A frustação de não conseguir conciliar nossas férias foi um dos motivos que nos fizeram pensar em fazer o sabático. E aqui estamos nós. Depois de 5 meses viajando, visitado 9 países, quase 40 cidades (onde dormimos) e muitos, muitos lugares, finalmente estamos no Nepal. 

Toda nossa viagem foi pensada tendo como destino central o Nepal. A questão toda era o que fazer antes e o que fazer depois, já que não se pode fazer o trekking durante todo o ano, somente no outono ou na primavera. E o objetivo aqui é fazer o trekking até o acampamento base do Everest passando pela região de Gokyo. Serão dezesseis dias caminhando até uma altitude máxima de 5,5 km do nível do mar. O Nepal será o lugar onde vamos descansar a mente e estressar o corpo.

Nesse período de duas semanas não vamos publicar nada no blog, somente quando voltarmos de toda a aventura que iremos atualiza-lo.

E lá vamos nós.  

Valeu Laviola.

Lucio e Raquel

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Índia: prorrogação

Bom pessoal,

A Índia para mim foi como um jogo: o primeiro tempo foi feio, horroroso e difícil de engolir. O segundo tempo foi melhor, com os dois lados procurando o jogo, mostrando a que vieram e fazendo até mesmo belas jogadas. E a prorrogação, que às vezes guarda o melhor da emoção, não deixou a desejar.

Saímos de Jaipur e fomos para Agra, a cidade do Taj Mahal. A estrada foi outra e nem precisei do ipod: tranquila, de boa qualidade e sem trânsito. Já próximo a Agra paramos para conhecer o Forte Fatehpur, um forte-palácio no alto de uma colina todo de pedra vermelha. E quando falo todo quero dizer TODO: do piso ao teto tudo é de pedra vermelha. Sem nenhum adereço, todos os detalhes são talhados nas próprias pedras, a grande atração é um prédio quadrado com uma coluna central toda detalhada. Mas o calor era tanto que curtimos muito pouco. Perguntei ao Grish se no verão o calor era muito maior e ele respondeu que sim. Perguntei de novo se era um calor de 40º e ele disse: “Nãããããoo, é de 48º, 49º. Das 11 da manhã até as 2 da tarde não tem ninguém na rua”. Não quis nem imaginar, fomos almoçar e seguimos para Agra. O hotel em Agra talvez tenha sido o melhor que tivemos em toda a Índia. Apesar que nunca ficamos em hotéis tão bons nessa viagem quanto os daqui.

Forte Fatehpur
A coluna
E no dia seguinte, as 5:30 da manhã seguimos para o Taj Mahal para ver o nascer-do-sol. Depois de passar pela bilheteria, e pelo portão de entrada, vimos aquele prédio branco, imenso, impressionante. Difícil não definir aquilo como único, majestoso. É sem sombra de dúvidas o maior, mais bonito e o mais qualquer-adjetivo-que-você-queira-usar mausoléu do mundo. Construído como prova de amor do Rei para sua esposa favorita que morrera de complicações no parto. Pensado nos mínimos detalhes, o prédio é totalmente proporcional, com face sul, geometricamente perfeito, cravejado de pedra semi preciosas, no final de um belo jardim com espelhos d’água. A única coisa fora do lugar no Taj Mahal é o túmulo do Rei, que não fazia parte do projeto e fica ao lado do da rainha (este sim bem no meio do prédio). Mas o rei gastou tanto que quase quebrou o reino e acabou sendo deposto do poder pelo próprio filho, que o colocou em “prisão-domiciliar” até o final de sua vida (ele viveu 8 anos na “prisão”) no Forte Agra, de onde se pode ver o Taj Mahal. Sem sombra de dúvidas, é uma maravilha do mundo.

O Taj Mahal
Os detalhes da fachada são feitos de pedras semi preciosas cravejadas no mármore
Forte Agra
Pátio Central do Forte Agra
O Taj Mahal visto do Forte Agra
Nesta mesma noite pegamos o trem para Varanasi, a cidade mais sagrada do Hinduismo, onde o começo e fim se encontram. Dizem que para experimentar a Índia você tem que andar de trem. E a coisa começou a ficar feia já na estação, que não é exatamente em Agra, é em uma outra cidade a uns 30 quilômetros. O trem era às 20:30 mas chegamos 2 horas antes. Durante a espera um pombo cagou na minha bolsa, um rato correu para debaixo do nosso banco, grilos, mosquitos e besouros apareciam de todo lugar e faltou energia várias vezes deixando tudo no escuro. E quando um outro trem chegou na estação, vimos como os indianos viajam. Não sabia que cabia tanta gente dentro de um vagão. Mas nosso ticket era para um vagão de cabines com 4 camas e com ar condicionado. E foi quase isso mesmo, só as cabines que não eram exatamente cabines. A separação para o corredor era de cortina e o trem não era um trem padrão japonês ou chinês, era velhinho, velhinho. Apesar da aparência não ser boa a viagem foi tranquila. Só o ar condicionado que estava no máximo e quase congelei. Chegamos as 6:30 da manhã em Varanasi e tinha uma pessoa nos esperando. Ainda bem porque a estação era uma bagunça só. Tinha até uma vaca dentro da estação. Seguimos para o hotel, tomamos café e fomos dormir de verdade.

No meio da tarde fomos conhecer o lugar onde supostamente o primeiro Budha fez o seu primeiro sermão. É um complexo de monastérios em ruínas com um grande totem que sinaliza o local do sermão. De lá fomos conhecer o bairro muçulmano e suas fábricas de lenços, colchas, almofadas e afins. Vimos como são feitos os lenços e seguimos para uma loja. O vendedor, um senhor, estava sentado num tablado e nos sentamos num banco. Ele primeiro começou a conversar sobre vários assuntos, perguntando sobre nós, nos ofereceu água e só depois de algum tempos nos mostrou os produtos. E eu pensando que tudo seria um grande desperdício de tempo já que nunca compramos nada. Mas ele era muito bom e os produtos também. Acho que ele seria capaz de vender geladeira para esquimó. No final das contas foi a maior compra que fizemos até hoje nessa viagem. Voltamos para o hotel e ficamos só esperando o outro dia para conhecer o rio Ganges.

As 5:30 da manhã deixamos o hotel a pé com destino ao rio para o passeio de barco neste que é o mais sagrado rio da Índia, onde tudo acontece. Onde eles rezam, fazem oferendas, tomam banho, escovam os dentes, lavam as roupas, jogam as cinzas dos mortos que podem ser cremados (e as partes que não foram) e os corpos dos que não podem, entre outras coisas. É um dos rios mais poluídos do mundo. O objetivo era ver o nascer-do-sol mas o mais interessante é ver as pessoas começando o dia, tomando banho, fazendo suas orações, trabalhando ou simplesmente tentando acordar. O guia no barco nos explicou tudo sobre os diversos Ghats e principalmente sobre os rituais que ali acontecem, em especial o ritual de cremação. Não vi nada assustador ou repugnante no rio mas li vários relatos de outros viajantes nada animadores. Depois disso fomos conhecer mais dois templos na cidade e no final do dia fomos acompanhar a cerimônia que acontece todos os dias em homenagem a Mãe Ganges, o rio, e é a mais famosa de toda a Índia. Essa era uma das imagens que tínhamos na cabeça quando pensávamos na Índia. Em teoria é a mesma cerimônia que vimos em Rishikesh mas muito mais grandiosa. E bonita. E cheia de luzes, fogo, cânticos, palmas e pessoas. Valeu a pena o sacrifício, porque o caminho do estacionamento até o local da cerimônia era como andar na 25 de março na véspera do natal, só que era um dia qualquer em Varanasi.

O nascer-do-sol de um lado do rio ... 

... e o ciclo da vida terminado no crematório que funciona 24 por 7 (prédio vermelho) ...
... e as orações matutinas de homens e mulheres ...
... e o banho refrescante diário ...
... e o banho purificador do corpo e da alma ...
... e vendo a vida passar do outro lado do rio.
E assim nos despedimos da Índia. O jogo foi duro, com momento bons e momento ruins, algumas recaídas e no final não sei exatamente quem ganhou. Não fiquei para ver os pênaltis.

Valeu.

Do céu ao inferno, de Agra a Varanasi

Ah, que linda historia de amor... o Taj Mahal é a maior declaração de amor imortalizada por uma das mais belas construções que já vi. Já tinha visto inúmeras fotos e imaginado como era, mas estar lá, de corpo e alma, absorvendo sua perfeição, ao nascer do sol, foi um momento de pura emoção. E são momentos assim, sublimes, que faz tudo valer a pena, vale a pena estar na Índia, vale a pena encarar um ano de mochilão, vale a pena ter dor de barriga, vale a pena sentir saudades. O Taj não precisa de palavras, é contemplar e sentir. Do jeito que eu gosto.

Ah, o Taj!

Nós 2 no Taj

Além do Taj, Agra tem outros dois fortes. Agra Fort, onde o rei que mandou construir o Taj para sua falecida esposa ficou preso durante 8 anos podendo admirá-lo somente do outro lado do rio, e Fatehpur Sikri, um complexo de castelos onde outro rei (aqui tá cheio de reis) mandou construir um palácio para cada uma de suas 3 esposas, uma hindu, outra muçulmana e outra católica. Mas de verdade, depois de ver o Taj, os outros ficaram sem graça.

Agra Fort e o Taj visto de onde o rei passou seus ultimos dias preso

Fatehpur Sikri, a cidade fantasma. Foi logo abandonada por dificuldade de abastecimento de agua

Em Agra nos despedimos de nosso motorista e fomos de trem noturno para Varanasi. A malha ferroviária daqui é enorme, se vai para qualquer lugar e a passagem é muito barata. Ratos tem aos montes passeando pelos trilhos, teve um que quase subiu no meu tenis (ainda bem que não era uma barata). Aquelas cenas que vemos dos indianos pendurados nos trens... não é tudo isso, mas chega perto. Ainda bem que nosso ticket era a segunda melhor classe do trem que consistia em 2 beliches separadas por uma cortina do corredor de passagem. O trem é mais feio do que eu imaginava mas a viagem foi melhor do que eu imaginava.

Varanasi é a expressão máxima da Índia, em todos os sentidos. Como estávamos de motorista fomos blindados da intensidade da cidade, mas mesmo da bolha pudemos ter uma amostra de tudo que ela oferece. São nos mais de 360 gaths do Rio Ganges que a cidade se constrói, tendo como tema os rituais de vida e morte. Fizemos um passeio de barco às 5h30 da manhã para ver a vida como ela é. Banho, reza, higiene, purificação, cremação, fé. Tudo junto, no mesmo rio sagrado que, para os hindus, possui uma força sem igual. À noite acompanhamos uma cerimônia na escadaria principal, onde todos os dias, ela reúne centenas de pessoas para rezar por paz e amor. Foi bonito, mas mais bonito do que ela própria, foi ver a devoção dessas pessoas.

Nascer do sol no Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges

6h30 às margens do Rio Ganges - tranquilidade

6h30 às margens do Rio Ganges - crematório

Oferenda, agradecendo e pedindo proteção

Cerimonia no final do dia

Depois de 19 dias estamos indo embora. Assim que chegamos achei que tínhamos dimensionado mal o tempo, que era melhor ter escolhido só o triângulo dourado (Delhi, Jaipur e Agra). Hoje, acho que fizemos no tempo que tinha que ser, tempo de se chocar, de resistir, de processar, de ver poesia e até de se encantar, por que não? Passamos por 6 cidades, uma diferente da outra, vendo caos, meditação, palácios, Rio Ganges, fé, muita fé. Não gostei de ficar com motorista o tempo todo, mas entendi que, para mochileiros nível básico como nós, foi a melhor alternativa. Gostaria de ter tido mais contato com as pessoas, na verdade gostaria de ter estado mais aberta para uma conversa. O mesmo olhar curioso que temos ao vê-los é retribuído, na proporção indiana, para nós. Eles querem saber de onde somos, entender como uma “chinesa” pode ser brasileira (aqui as pessoas continuam achando que eu sou chinesa), querem tirar foto. Teve um dia que um grupo escolar de umas 30 pessoas nos cercaram e perguntaram se podiam nos fotografar. Falamos que ok sem imaginar que a sessão foto duraria uns 10 minutos com umas 20 cameras apontadas para nós. Um barato. Sempre que eu largava minha armadura e sorria, recebia um sorriso de volta. As pessoas que nos atenderam em hotéis e restaurantes foram de uma gentiliza que não vimos igual nessa viagem.

Sempre me emociono ao deixar um país. São vivências intensas, tão diferentes daquelas que estamos acostumados... algumas são esperadas, outras nem imaginamos. Descobrimos coisas novas e resignificamos outras, dando sentido ao momento atual, até vir novas experiências, e novos resignificados.

Aqui aprendi a agradecer. Tão obvio. Tão simples. Nada obvio.

Quem sabe não voltamos pra cá na nossa segunda volta ao mundo e dessa vez de forma independente? Vai pensando Lucio... 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Índia: Segundo Tempo

Bom pessoal,

De Delhi seguimos para o Rajastão. Fomos conhecer principalmente as cidades de Udaipur e Jaipur. Como Udaipur é bem distante de Delhi fizemos uma parada estratégica na cidade de Pushkar. A estrada era bem melhor que a outra mas mesmo assim nada muito animador. Talvez daqui a 5 anos esteja finalizada porque hoje ela está em todos os estágios da construção, dependendo do trecho. Com isso a velocidade média é de 50 Km por hora. Haja saco.

Chegamos depois das 4 da tarde e eu estava bastante cansado e com fome. Ainda não estava gostando nada da Índia. Pushkar é uma cidade pequenininha como Rishikeshi, mas ao invés de um rio sagrado eles tem uma lago sagrado. O lago artificial fica no meio da cidade. Deixamos nossas coisas no hotel e seguimos para o centrinho onde estão os restaurantes, lojas, templos e o lago. Além disso tem muitas pessoas tentando te aplicar mais um golpe: eles te oferecem pétalas de rosas, quando você recusa eles dizem que não são para você, são para os deuses, por respeito e quando você aceita eles te “exigem” até 1.000 rupias (ou 170 dólares). Já conhecíamos e não caímos nessa. Fomos conhecer primeiro o Templo Brahma. Não, não é o templo da cerveja, Brahma é o deus-criador do hinduísmo, e somente a Raquel conheceu. Um dos ditados que temos que aprender quando conhecemos outras cultura é: “Minha casa, minhas regras”. No templo não se pode entrar calçado, com câmeras ou mesmo mochila. Não ia deixar minha mochila num box na rua. Ainda não estou à vontade com nada imagina confiar nesse tipo de serviço. Depois fomos almoçar e ver o pôr-do-sol da escadaria do lago. Foi bem bonito por causa do sol e do som. Tinha um grupo de percussionistas que tocou até o sol se por. Muito bonito, mas a maioria das pessoas, principalmente os indianos, ficaram mais interessados em uma menina (ocidental) que estava dançando com um bambolê ao som da percussão. Os indianos ficaram hipnotizados. Tem muitos ocidentais nessa cidade e quase todos com cara de bicho-grilo. E eu entendi o porquê no restaurante onde almoçamos: o cara nos ofereceu de sobremesa um bolo de maconha (que recusamos). Não sei se é liberado, mas parece que é livremente consumida.
Pòr-so-sol em Pushkar
Voltamos para o hotel e no dia seguinte mais um dia de viagem até Udaipur. Todas as viagens me deixam estressados. É o trânsito, a bagunça, o desrespeito, a estrada, enfim tudo. Chegamos e só saímos no dia seguinte. Primeiro fomos conhecer um museu a céu aberto que apresentava os vários tipos de povos da índia, suas casas, danças e músicas. Éramos somente eu e a Raquel. Muita atenção pro meu gosto. Não gostei. Dali mudamos a programação que o Gris, nosso motorista, tinha feito e seguimos direto para o centro para conhecer as principais atrações e também para dispensa-lo pois de lá para o hotel não era muito distante. Não gostei da ideia pois uma das coisas que não estou gostando nada é andar por ai, mas prometi fazer tudo que a Raquel tinha programado. Fomos e a cidade antiga de Udaipur foi a melhor cidade que conhecemos até agora. A bagunça é menor, o trânsito mais calmo (só tem uma rua) e as atrações estão todas bem próximas. Andamos pelo centro com muitas lojas de roupas e artesanato e até comprei os imãs de geladeira, que são as únicas coisas que estamos comprando de lembrança dos lugares que visitamos.


Cidade Antiga de Udaipur
Nesse dia fiquei tentando entender o porquê de tanta repulsa em relação a Índia. Já vi miséria igual a daqui, já vi pobreza igual a daqui, tanto em outros países como no Brasil. Então, porquê? Talvez porque aqui a coisa seja mais generalizada do que nos outros lugares? Ou porque, no meu inconsciente, miséria e pobreza (favela e periferia) estão quase sempre associados a risco, perigo e violência, e fico sempre em alerta? Mas nunca vi nenhuma situação de risco ou violência onde andei. Quando saímos de viagem prometi manter os olhos, coração e mente abertos, mas não tá dando. Não sei porque. Mas no décimo segundo dia eu descansei, relaxei. Parei de pensar em tudo e passei apenas a observar a vida como ela é e não como eu achava, arrogantemente talvez, que poderia ou supostamente deveria ser. Voltei a ser eu mesmo. No outro dia fomos conhecer o City Palace, um palácio com mais de 200 metros de comprimento e o lago Pichhola, um lago artificial com duas ilhas que hoje são: um hotel de luxo (exclusivíssimo) uma, e um restaurante (mais popular) a outra. Fizemos um passeio de barco pelo lago e paramos no restaurante para conhecer mas não almoçamos por lá. Ele é popular mas não tanto. Fomos almoçar no centro num restaurante recomendado pelo guia: pequeno com boa comida e muito barato. Muito bom.

Pátio interno do City Palace em Udaipur
City Palace de Udaipur e o Lago Pichhola
No outro dia, mais um dia de viagem. E essa prometia: de Udaipur para Jaipur, mais de 600 quilômetros. Então para não ficar estressado de novo, resolvi utilizar uma técnica que uso no trabalho quando o bicho pega: escutar brega. Fernando Mendes, Paulo Sérgio, Agnaldo Timóteo, Bartô Galeno, entre outros do nosso cancioneiro popular. Quem já trabalhou comigo sabe como é. E como, as vezes, escutar não basta, também quero compartilhar, gostaria de pedir desculpas aos com ouvidos mais exigentes. Mas que saber? Deu certo. 



Forte Amber em Jaipur
Detalhe do Forte



Chegamos em Jaipur no final do dia e não fizemos mais nada. Jaipur é conhecida como a cidade rosa porque em 1876 o Marajá mandou pintar toda a cidade para receber o Príncipe de Gales. Não sei se são meus olhos mas rosa aqui não é exatamente rosa, tá mais pra um vermelho cor de telha, parecido com Marrakesh no Marrocos. No dia seguinte fomos conhecer o Forte Amber, construído no topo de uma montanha e rodeado por muralhas para todos os lados que mais pareciam a Muralha da China, o City Palace e o Hawa Mahal ou Palácio dos Ventos. Andamos um pouco pelo centro e até ri das piadinha que faziam em todos os lugares sobre a minha camisa: uma reprodução da obra “Banana” de Andy Warhol. Parece que todos aqui gostaram da minha banana. Kkkkkkk. Agora é aguardar amanhã para seguir viagem para Agra e depois Varanasi. Mas estou mais tranquilo e à vontade para continuar sem problemas. Mas só para garantir, vou recarregar a bateria do ipod.

Palácio Hawa Mahal
Detalhe de uma porta no City Palace em Jaipur
Um indiano fazendo turismo

Valeu.

A Índia também pode ser poesia: um passeio pelo Rajastão

A Índia é a Índia em qualquer lugar da Índia. Tanto faz estar enlouquecendo na caótica Delhi ou meditando em Rishikesh ou dando uma de marajá no Rajastão... ela vai continuar sendo a Índia. 

Bom, depois dessa constatação, percebi que o que tinha que mudar era o meu olhar, que precisava abstrair a pobreza, a sujeira, a buzina e os malandros e ver as paisagens sob um novo ângulo. Assim, criei o projeto “A Índia também pode ser poesia” e tenho trabalhado nele há 1 semana. A fórmula é máquina fotográfica na mão, olhos atentos e coração aberto. Simples assim. E não é que está dando certo?

Ah, meu assistente de produção, o Lucio, no começo não demonstrou nenhum interesse, mas com o passar dos dias ele foi se envolvendo e quase pude ver um sorriso diante de uma “poesia”.  

Vem comigo.

Pushkar foi a primeira parada do passeio pelo Rajastão. Uma cidade sagrada na qual o principal atrativo é o lago onde as pessoas tomam banho em uma das 52 escadarias. Foi alí que fui surpreendida por um belíssimo pôr do sol acompanhado de uma musica de tambor tocada por 2 locais. Poesia pura. 



De lá fomos para Udaipur, conhecida como a Veneza da Índia. Dentro dos padrões indianos ela realmente é bem romântica, com um centrinho de ruelas estreitas rodeado pelo Lago Pichola e um lindo castelo, o City Palace. 

Corredores de colunas compõem um dos pátios internos do castelo
Contemplando...

Decoração bem cuidada em uma das passagens do castelo 

Cena típica, saris e cores

Terminamos a visita com um passeio de barco pelo Lago Pichola. Esse é um dos portais para banho.

Visitamos também o Templo Jagdish e o Bagore-Ki Haveli, um casa antiga transformada em museu.


Detalhe da coluna do templo

Interior da Haveli, parece quarto de princesa

O restante do tempo passamos apreciando a paisagem através das vistas dos restaurantes, onde descobrimos que sim, existe cerveja na Índia, e com graduação alcoólica de 8%. 

Restaurante no centrinho da cidade, vista para o Lago Pichola

Restaurante do nosso hotel, também vista para o Lago Pchola, mas mais distante

E por último fomos para Jaipur, a capital do Rajastão. Depois de passar por cidades fora do circuito turístico, voltamos para aquela bagunça típica daqui. Não sei se foi porque estamos mais acostumados, ou porque fizemos tudo com motorista, ou mesmo porcauca da vibe da poesia, mas a bagunça nem pareceu tão grande assim. Na verdade nos divertimos muito nessa cidade, conhecida pelos palácios e castelos dos marajás. Visitamos o Fort Amber, City Palace e Palácio dos Ventos que é o principal cartão postal do país.

Nós 2 com vista para o pátio central do Amber Fort. É enorme, cercada por uma muralha que vai montanha abaixo e acima. 

Um dos portais do Palácio do Amber Fort, bem detalhado, muito bonito

Caí no golpe achando que era uma foto autentica, mas são mulheres que posam em troca de dinheiro. Mas gostei da foto mesmo assim.

Sala dos espelhos, toda brilhante.

Nós 2 no Jal Mahal, antigo Palácio de Verão onde, dos 3 andares, 1,5 fica debaixo da água.

City Palace, um complexo grande, muito bonito. A familia do maraja ainda mora em uma parte do castelo.

City Palace, pátio principal

City Palace, pátio secundário

Palácio dos Ventos, foi construído para que as mulheres pudessem ver a rua sem serem vistas

Interior do Palácio dos Ventos

Temos feito todos os trajetos de carro, alguns trechos são bons, outros uma loucura. Nosso motorista é bem experiente, no começo achava que ele era totalmente irresponsável, mas depois vi que o jeito do indiano dirigir é diferente do que conhecemos. Minha técnica é colocar o ipod, ler quando o carro não está balançando muito ou dormir. E até nas estradas a Índia surpreende, olha o caminhão, são todos assim, coloridos e decorados. Uma poesia! 

Caminhão nas estradas da Índia

Foi uma semana diferente, nunca fiz tanta questão de fotografar, E não somente paisagens e monumentos, mas detalhes ou qualquer coisa que pudesse compor o meu projeto. Acho que deu certo, estou curtindo estar aqui. E o passeio continua...