Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Porque um ano sabático

Quando o Lucio propôs "vamos dar uma volta no mundo", na hora, gostei da ideia, mas até a decisão efetiva, foi um bom tempo. A ideia de largar tudo, colocar a mochila nas costas, se aventurar, e voltar sem ter nada certo, era ao mesmo tempo tentadora e assustadora. Passamos meses conversando, fazendo conta, refazendo conta até que decidimos. E desistimos. Mas a ideia não ia embora... até que um dia percebemos que não precisamos de muito para ser feliz, gostamos das pequenas coisas, do simples, do essencial! Pronto, a decisão estava tomada.
Toda a minha vida foi regrada nos moldes tradicionais que a sociedade espera. Boa filha, boa educação, bom emprego, bom marido, boa vida. Tudo muito certinho, seguindo padrões e atendendo expectativas. E de verdade, nunca me questionei sobre o rumo das coisas, apenas fui seguindo o que achava que tinha que fazer.
Sabe aquela história “pára o mundo que eu quero descer”? É mais ou menos isso que eu quero. Eu quero fazer uma pausa, quero sair do óbvio, quero me questionar, quero aprender a rir, quero chorar mais, quero sentir saudades, quero aprender a escrever, quero perder o medo de barata (esse é essencial... já estou mentalizando o que vou fazer quando encontrar uma baratona voadora nos albergues da Ásia...), quero perder um voo, quero me perder, e quero me reencontrar, para poder voltar, diferente, com outros olhares e outros significados.
Um grande amigo nos disse na despedida "aproveitem a oportunidade de viver algo sensacional em suas vidas, viajem leve de "equipamentos" e voltem pessoas melhores". Isso resume muito o que queremos fazer. Queremos cuidar da alma, que a tia Lydia traduziu muito bem como "queremos entrar em contato com nossos desejos mais profundos e buscar o verdadeiro sentido de nossas vidas".
Esse projeto de vida só faz sentido porque o Lucio estará comigo. É muito especial termos tomado essa decisão juntos e estarmos dispostos a nos conhecer como indivíduos e como casal em um intensivão de 24 horas/dia, todos os dias, por 365 dias. Ele sempre diz "te amo pra sempre mas pra sempre não é todos os dias"... e é com essa verdade que nos amamos e vivemos todos os dias.
Entre loucura e coragem, estamos construindo nossos caminhos e sabemos que isso nos mudará para sempre. Nos despedimos de nós mesmos, como somos hoje, e nos reencontramos daqui a 1 ano.
Quero finalizar com um presente que recebi do mesmo grande amigo que citei acima. Joao, muito obrigada!

Instantes, de Jorge Borges
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas, e se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário