Quando o
Lucio propôs "vamos dar uma volta no mundo", na hora, gostei da
ideia, mas até a decisão efetiva, foi um bom tempo. A ideia de largar tudo,
colocar a mochila nas costas, se aventurar, e voltar sem ter nada certo, era ao
mesmo tempo tentadora e assustadora. Passamos meses conversando, fazendo conta,
refazendo conta até que decidimos. E desistimos. Mas a ideia não ia embora...
até que um dia percebemos que não precisamos de muito para ser feliz, gostamos
das pequenas coisas, do simples, do essencial! Pronto, a decisão estava tomada.
Toda a minha vida foi regrada nos
moldes tradicionais que a sociedade espera. Boa filha, boa educação, bom
emprego, bom marido, boa vida. Tudo muito certinho, seguindo padrões e
atendendo expectativas. E de verdade, nunca me questionei sobre o rumo das
coisas, apenas fui seguindo o que achava que tinha que fazer.
Sabe aquela história “pára o mundo
que eu quero descer”? É mais ou menos isso que eu quero. Eu quero fazer uma
pausa, quero sair do óbvio, quero me questionar, quero aprender a rir, quero
chorar mais, quero sentir saudades, quero aprender a escrever, quero perder o
medo de barata (esse é essencial... já estou mentalizando o que vou fazer
quando encontrar uma baratona voadora nos albergues da Ásia...), quero perder
um voo, quero me perder, e quero me reencontrar, para poder voltar, diferente, com
outros olhares e outros significados.
Um grande amigo nos disse na
despedida "aproveitem a oportunidade de viver algo sensacional em suas
vidas, viajem leve de "equipamentos" e voltem pessoas melhores".
Isso resume muito o que queremos fazer. Queremos cuidar da alma, que a tia
Lydia traduziu muito bem como "queremos entrar em contato com nossos
desejos mais profundos e buscar o verdadeiro sentido de nossas vidas".
Esse projeto de vida só faz
sentido porque o Lucio estará comigo. É muito especial termos tomado essa
decisão juntos e estarmos dispostos a nos conhecer como indivíduos e como casal
em um intensivão de 24 horas/dia, todos os dias, por 365 dias. Ele sempre diz
"te amo pra sempre mas pra sempre não é todos os dias"... e é com
essa verdade que nos amamos e vivemos todos os dias.
Entre loucura e coragem, estamos
construindo nossos caminhos e sabemos que isso nos mudará para sempre. Nos despedimos
de nós mesmos, como somos hoje, e nos reencontramos daqui a 1 ano.
Quero finalizar com um presente
que recebi do mesmo grande amigo que citei acima. Joao, muito obrigada!
Instantes,
de Jorge Borges
Se eu pudesse viver novamente a
minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido; na verdade, bem poucas
coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria
mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais
montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca
fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos
imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que
viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de
alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria
de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é
feito a vida: só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a
parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um
pára-quedas, e se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria
a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do
outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria
mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida
pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e
sei que estou morrendo.
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