Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Indonesia, uma preguiça sem fim...

Não foi paixão à primeira vista. Na verdade demorou para eu entrar no clima. É o país mais malandro que passamos, parece que o tempo todo somos passados pra tras, qualquer desatenção e lá se foram algumas rupias indevidas. Tudo, absolutamente tudo, precisa ser negociado, transporte, hotel, passeio, garrafa de água e até comida nos restaurantes. Aconteceu duas vezes, estávamos em restaurantes bem turísticos e com preços lá em cima. Quando fizemos menção de nos levantarmos veio o garçom dizendo que fazia um good price (quase 50% de desconto). E na verdade como é tudo muito barato, muitas vezes nem percebemos que estamos pagando overpriced. Teve aquele golpe do Money Exchange logo nos primeiros dias que também me deixou chateada. E o que dizer da propina para a polícia? Deixamos de alugar moto nos lugares mais movimentados porque sabíamos que os policiais param os estrangeiros para conseguir dinheiro. Cheguei a ler para já deixar separado o dinheiro da policia (a mesma história que ouvimos no Brasil da carteira para o ladrão). Uma coisa ruim que não deveria acontecer, mas que todo mundo sabe que acontece e já que é inevitável já se prepara para o pior. Corrupção na cara dura.

Terraço de arroz Tegalalang, Ubud, Bali

Além disso nos pegou em um momento da viagem que estávamos muito cansados, vindo de uma andança pelo sudeste asiático em uma “rooteza” total. Teve um fator emocional que me pegou, que foi a compra da passagem de volta ao Brasil. Para garantir melhor preço tivemos que antecipar nossos próximos passos e já comprar a passagem. Foi difícil lidar com o significado de ter uma passagem de volta, foi sentir o nosso sonho se aproximando do fim... Diante de tantas emoções tivemos uma briga feia, na verdade não tão feia, mas muito intensa de sentimentos. Aquelas conversas que temos 1 vez a cada 3 anos, aconteceu logo que chegamos nas ilhas Gilis. E para terminar, uma infecção intestinal em mim nos primeiros dias e nos últimos dias uma inflamação na garganta que tive que tratar com antibiótico, e que 2 dias depois acordei com o rosto inchado descobrindo assim que sou alérgica a esse antibiótico. E uma gripe no Lucio que durou quase o mês inteiro, também tratada com antibiótico. Ficar doente é ruim em qualquer situação, mas longe de casa e sozinhos é bem complicado. Apesar de estarmos com seguro saúde e uma farmácia bem recomendada pelo meu pai médico, parece que a gente fica mais vulnerável. Enfim, deve ser o corpo reclamando do cansaço.

No meio desse cenário de nuvens negras os dias foram passando. E entre uma praia e outra, um ceu azul e um mar mais azul ainda, aquele sorriso simples que eu tanto amo nas pessoas locais, mais descansados, alma mais leve, fui me entendendo comigo mesma, com o Lucio e com o lugar. E depois de 1 mês vem de novo aquele sentimento que já senti tantas outras vezes ao deixar um país, de não querer partir. E talvez dessa vez porque ao partir me despediria de todo o Sudeste Asiático, de toda a Ásia, e entraríamos na nossa última etapa da viagem, a Oceania.

Oferenda, em todos os lugares

Templo dos macacos, Ubud. O macaco já ia abrindo a mochila do Lucio.

Começamos e terminamos nossa estadia em Kuta, a primeira vez porque era a cidade mais perto do aeroporto com todas as facilidades para os turistas. Ficamos apenas 2 dias para nos ambientarmos com o país e logo partimos para Gili Air, em Lombok. Uma ilhazinha paradisíaca, onde o meio de transporte é a bike ou a charrete. Na verdade não precisa de mais do que isso já que para dar um volta completa na ilha caminhando não leva mais do que 1 hora e meia. Tivemos 1 semana de praia, descansando o corpo e acalmando o coração.

Refeitos de tantas emoções, voltamos para Bali e fomos conhecer Ubud. Ainda naquela preguiça sem fim, passamos 8 dias vendo os ícones da Indonésia: campos de arroz, templos e oferendas. Em um dos dias alugamos uma bike e andamos 30 Km para conhecer o terraço de arroz de Tegalalang e o templo das águas. O que não sabíamos era que a ida era somente subida. Debaixo daquele sol que só a Indonesia sabe fazer por você. No meio do passeio fiquei com raiva de termos alugado bike e não moto, e ao inferno com a propina. Mas na volta foram 15 Km de pura descida, e viva a bike. No outro dia contratamos um passeio, aí sim, de van e ar condicionado, que nos levou para vários templos mais distantes, uma vista do vulcão e do lago Batur e terminou com um almoço com vista para mais plantações de arroz. O que eu mais gostei foi o Tirta Empul Holy Water Temple, um dos principais templos para os balineses onde tem um ritual de purificação cheio de significado. Cada fonte tem um poder que cura os males do corpo e da alma e as pessoas precisam se banhar em todas elas, menos em 2 que são específicas para redenção. As oferendas estão presentes em todos os lugares, assim como em todo os outros templos e assim como em toda a cidade.

Tirta Empul Holy Water Temple

Nós 2 em Tegalalang, passeio de bike

Mother Temple

Arroz, arroz, arroz... vista do nosso restaurante que queria nos extorquir e acabamos pagando metade do preço do cardápio.

Assistimos a uma performance de dança balinesa, feita para turistas mas muito bem produzida. São interpretações das histórias do país que contam com uma expressão impressionante através dos rostos e dos olhos dos dançarinos. Ficamos hipnotizados pelas mãos e pelos pés que se entortam com a mesma facilidade do sorriso que acompanha toda a exibição.


Dança Balinesa, Lotus Temple



Fizemos nossas mochilas e voltamos para as praias, dessa vez para o sul, em Padang Padang/Uluwatu, região muito conhecida pelos surfistas e pelos brasileiros. São praias mais rusticas, bem no meio da natureza e dos penhascos. Continuamos no esquema da preguiça sem fim de pegar um solzinho, comer, beber e dormir. Com tantos brasileiros é claro que tem um restaurante brasileiro e é claro que fomos lá comer um feijãozinho. Sem sal. Depois de 10 meses viajando descobrimos que a melhor comida é sempre a local. Mas também descobrimos que a comida de casa, mesmo sem sal, sempre traz um conforto que não dá pra explicar.


Uluwatu Temple

Por do sol em Uluwatu Temple

E voltamos para Kuta. Sabemos que ali não tem as melhores praias mas tem as melhores facilidades. E nos preparando para os últimos países de nossa volta ao mundo tudo o que queríamos era boa internet, ar condicionado, chuveiro com água quente, fartura de restaurantes e facilidade de transporte. 

Vou embora com a sensação que fui um pouco injusta com a Indonesia, parece que nao aproveitei tudo que tinha que aproveitar. Ficamos 1 mes na preguiça, fazendo tudo devagarinho... faltou um pouco de disposição física também dado os problemas de saúde que tivemos, quando não era eu era o Lucio que estava de cama. Mas talvez seja aquela minha ansiedade me condenando, de ter que fazer tudo, de ter que aproveitar o máximo... é, mesmo depois de 10 meses de viagem ainda sofro dela... pensando bem, talvez a melhor maneira de aproveitar fosse essa mesma, aos poucos, deixando o dia passar sem fazer nada, comendo nasi goreng todos os dias, jogando candy crush (odeio chocolates e ursinhos), lendo meus livros de mulher, tirando soneca à tarde, bebendo cerveja nos dias que eu tava boa, admirando os rituais de oferenda todas as manhãs. Enfim, assim foi a Indonesia, nosso 18 país que fecha o bloco Sudeste Asiático. E seguimos nossa jornada.


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