Não
foi paixão à primeira vista. Na verdade demorou para eu entrar no clima. É o
país mais malandro que passamos, parece que o tempo todo somos passados pra
tras, qualquer desatenção e lá se foram algumas rupias indevidas. Tudo,
absolutamente tudo, precisa ser negociado, transporte, hotel, passeio, garrafa
de água e até comida nos restaurantes. Aconteceu duas vezes, estávamos em
restaurantes bem turísticos e com preços lá em cima. Quando fizemos menção de
nos levantarmos veio o garçom dizendo que fazia um good price (quase 50% de
desconto). E na verdade como é tudo muito barato, muitas vezes nem percebemos
que estamos pagando overpriced. Teve aquele golpe do Money Exchange logo nos
primeiros dias que também me deixou chateada. E o que dizer da propina para a
polícia? Deixamos de alugar moto nos lugares mais movimentados porque sabíamos
que os policiais param os estrangeiros para conseguir dinheiro. Cheguei a ler
para já deixar separado o dinheiro da policia (a mesma história que ouvimos no
Brasil da carteira para o ladrão). Uma coisa ruim que não deveria acontecer,
mas que todo mundo sabe que acontece e já que é inevitável já se prepara para o
pior. Corrupção na cara dura.
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Terraço de arroz Tegalalang, Ubud, Bali |
Além
disso nos pegou em um momento da viagem que estávamos muito cansados, vindo de
uma andança pelo sudeste asiático em uma “rooteza” total. Teve um fator
emocional que me pegou, que foi a compra da passagem de volta ao Brasil. Para
garantir melhor preço tivemos que antecipar nossos próximos passos e já comprar
a passagem. Foi difícil lidar com o significado de ter uma passagem de volta,
foi sentir o nosso sonho se aproximando do fim... Diante de tantas emoções
tivemos uma briga feia, na verdade não tão feia, mas muito intensa de
sentimentos. Aquelas conversas que temos 1 vez a cada 3 anos, aconteceu logo
que chegamos nas ilhas Gilis. E para terminar, uma infecção intestinal em mim nos
primeiros dias e nos últimos dias uma inflamação na garganta que tive que
tratar com antibiótico, e que 2 dias depois acordei com o rosto inchado descobrindo assim que sou alérgica a esse antibiótico. E uma gripe no Lucio que durou quase o mês
inteiro, também tratada com antibiótico. Ficar doente é ruim em qualquer
situação, mas longe de casa e sozinhos é bem complicado. Apesar de estarmos com
seguro saúde e uma farmácia bem recomendada pelo meu pai médico, parece que a gente
fica mais vulnerável. Enfim, deve ser o corpo reclamando do cansaço.
No
meio desse cenário de nuvens negras os dias foram passando. E entre uma praia e
outra, um ceu azul e um mar mais azul ainda, aquele sorriso simples que eu
tanto amo nas pessoas locais, mais descansados, alma mais leve, fui me
entendendo comigo mesma, com o Lucio e com o lugar. E depois de 1 mês vem de
novo aquele sentimento que já senti tantas outras vezes ao deixar um país, de
não querer partir. E talvez dessa vez porque ao partir me despediria de todo o
Sudeste Asiático, de toda a Ásia, e entraríamos na nossa última etapa da
viagem, a Oceania.
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Oferenda, em todos os lugares |
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Templo dos macacos, Ubud. O macaco já ia abrindo a mochila do Lucio. |
Começamos
e terminamos nossa estadia em Kuta, a primeira vez porque era a cidade mais
perto do aeroporto com todas as facilidades para os turistas. Ficamos apenas 2
dias para nos ambientarmos com o país e logo partimos para Gili Air, em Lombok.
Uma ilhazinha paradisíaca, onde o meio de transporte é a bike ou a charrete. Na
verdade não precisa de mais do que isso já que para dar um volta completa na
ilha caminhando não leva mais do que 1 hora e meia. Tivemos 1 semana de
praia, descansando o corpo e acalmando o coração.
Refeitos
de tantas emoções, voltamos para Bali e fomos conhecer Ubud. Ainda naquela
preguiça sem fim, passamos 8 dias vendo os ícones da Indonésia: campos de arroz,
templos e oferendas. Em um dos dias alugamos uma bike e andamos 30 Km para
conhecer o terraço de arroz de Tegalalang e o templo das águas. O que não
sabíamos era que a ida era somente subida. Debaixo daquele sol que só a Indonesia sabe fazer por você. No meio do
passeio fiquei com raiva de termos alugado bike e não moto, e ao inferno com a
propina. Mas na volta foram 15 Km de pura descida, e viva a bike. No outro dia
contratamos um passeio, aí sim, de van e ar condicionado, que nos levou para
vários templos mais distantes, uma vista do vulcão e do lago Batur e terminou
com um almoço com vista para mais plantações de arroz. O que eu mais gostei foi
o Tirta Empul Holy Water Temple, um dos principais templos para os balineses
onde tem um ritual de purificação cheio de significado. Cada fonte tem um poder
que cura os males do corpo e da alma e as pessoas precisam se banhar em todas
elas, menos em 2 que são específicas para redenção. As oferendas estão
presentes em todos os lugares, assim como em todo os outros templos e assim
como em toda a cidade.
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Tirta Empul Holy Water Temple |
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Nós 2 em Tegalalang, passeio de bike |
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Mother Temple |
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Arroz, arroz, arroz... vista do nosso restaurante que queria nos extorquir e acabamos pagando metade do preço do cardápio. |
Assistimos
a uma performance de dança balinesa, feita para turistas mas muito bem
produzida. São interpretações das histórias do país que contam com uma
expressão impressionante através dos rostos e dos olhos dos dançarinos. Ficamos
hipnotizados pelas mãos e pelos pés que se entortam com a mesma facilidade do
sorriso que acompanha toda a exibição.
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Dança Balinesa, Lotus Temple |
Fizemos
nossas mochilas e voltamos para as praias, dessa vez para o sul, em Padang
Padang/Uluwatu, região muito conhecida pelos surfistas e pelos brasileiros. São
praias mais rusticas, bem no meio da natureza e dos penhascos. Continuamos no
esquema da preguiça sem fim de pegar um solzinho, comer, beber e dormir. Com
tantos brasileiros é claro que tem um restaurante brasileiro e é claro que
fomos lá comer um feijãozinho. Sem sal. Depois de 10 meses viajando descobrimos
que a melhor comida é sempre a local. Mas também descobrimos que a comida de
casa, mesmo sem sal, sempre traz um conforto que não dá pra explicar.
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Uluwatu Temple |
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Por do sol em Uluwatu Temple |
E
voltamos para Kuta. Sabemos que ali não tem as melhores praias mas tem as
melhores facilidades. E nos preparando para os últimos países de nossa volta ao
mundo tudo o que queríamos era boa internet, ar condicionado, chuveiro com água
quente, fartura de restaurantes e facilidade de transporte.
Vou embora com a sensação que fui um pouco injusta com a Indonesia, parece que nao aproveitei tudo que tinha que aproveitar. Ficamos 1 mes na preguiça, fazendo tudo devagarinho... faltou um pouco de disposição física também dado os problemas de saúde que tivemos, quando não era eu era o Lucio que estava de cama. Mas talvez seja aquela minha ansiedade me condenando, de ter que fazer tudo, de ter que aproveitar o máximo... é, mesmo depois de 10 meses de viagem ainda sofro dela... pensando bem, talvez a melhor maneira de aproveitar fosse essa mesma, aos poucos, deixando o dia passar sem fazer nada, comendo nasi goreng todos os dias, jogando candy crush (odeio chocolates e ursinhos), lendo meus livros de mulher, tirando soneca à tarde, bebendo cerveja nos dias que eu tava boa, admirando os rituais de oferenda todas as manhãs. Enfim, assim foi a Indonesia, nosso 18 país que fecha o bloco Sudeste Asiático. E seguimos nossa jornada.
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