Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Camboja: da crueldade da guerra a uma maravilha do mundo

Seguimos caminhando pelo Camboja, um país marcado pelo governo comunista Khmer Vermelho que exterminou 1/3 da população entre 1976 e 1979. Os que não foram levados para os campos onde foram submetidos ao trabalho escravo foram perseguidos e torturados, caso daqueles que tinham estudo ou dominassem qualquer arte. Na verdade até quem usava óculos já era considerado inimigo da revolução. As conseguencias são visíveis por onde andamos, um país pobre, ruas sujas, muitos pedintes, com um dos piores índices de corrupção do mundo.

Visitamos cidades que descobriram no turismo uma forma de ganhar a vida e isso significa colocar toda a família para vender alguma coisa, de pulseirinha de tecido a qualquer tipo de droga, de crianças a idosos. O Lucio brincou que a primeira palavra que as crianças aprendem é “one dólar” e depois “two for one dólar” e por ultimo “three for one dólar”. Entre uma venda e outra elas brincam com o que tem, sempre descalços e ranhentinhos. Um dia andando pela rua de Siem Reap vi 2 crianças que vestiam uma caixa de papelão e brincavam como se estivessem com armaduras de robôs. E se divertem como se a guerra nunca tivesse existido, e depois voltam repetindo exaustivamente “one dólar”.  


Começamos pela capital Phnom Penh, cidade grande não muito acolhedora. Visitamos o Palácio Real e andamos pela cidade, nas margens do Rio e pelo Mercado Central. Para conhecer um pouco da Guerra fomos ao Museu do Genocídio Tuol Sleng, uma antiga escola que foi transformada em prisão onde as regras eram bem simples: responda imediatamente o que eu te perguntar, não me conteste, obedeça todas as minhas ordens e não grite enquanto estiver sendo torturado. As salas de tortura e as celas minúsculas ainda permanecem para mostrar toda a brutalidade da época.

Palacio Real

Celas dos prisioneiros da guerra

Esse é o terceiro museu de guerra que visitamos nessa viagem, o primeiro foi em Hiroshima e depois o de Saigon. São visitas pesadas que me deixam impressionada com o “quanto vale uma vida”. Sempre acreditei que esses tipos de museus eram importantes para não repetirmos os mesmos erros novamente, mas talvez a maior crueldade seja não aprender com eles e continuar a repeti-los, de forma cada vez mais brutal.

De lá fomos para Siem Reap, cidade base para os templos de Angkor. O Parque Arqueológico é imenso com várias ruínas datadas dos séculos IX ao XV. Diversos templos de características únicas, todos de pedra, enormes e imponentes. Foram 3 dias andando de templo em templo, daquele jeito que eu gosto tanto, contemplando e sentindo.

O mais conhecido, declarado como uma das 7 maravilhas do mundo é o Angkor Wat, considerado o maior e mais bem preservado monumento religioso do mundo. Fomos lá nos 3 dias, no primeiro para conhece-lo, no segundo para ver o nascer do sol e no terceiro para ver o pôr do sol. Nesse último dia, sentados à beira do lago e apreciando a beleza do lugar o René nos perguntou se tínhamos nos dado conta de quão longe estávamos do Brasil. E aí parei para pensar no quão único era aquele momento, de estar lá, privilegiada por o que uma volta ao mundo pode proporcionar mesmo depois de 9 meses pelo mundo afora.

Angkor Wat

Nós 2

No segundo dia acordamos cedo para ver o nascer do sol atrás do Angok Wat. Não foi lá aquele nascer do sol, mas o melhor foi começar a explorar os templos logo em seguida e ter a oportunidade de sermos os primeiros a entrar e tê-lo todinho para nós. Contemplar e sentir em dobro.

Nós 4 de manhãzinha no templo todinho nosso

A ultima cidade que visitamos foi Battambarg, uma cidade maior do que eu imaginava na qual a principal atração era passear pelas vilas ao redor. Contratamos um tuk tuk e fomos conhecer os principais pontos turísticos. Andamos no trem de bambu, visitamos um templo, subimos uma montanha e deixamos o melhor por último: uma revoada de bilhões de morcegos que todos os dias saem da caverna em busca de alimento pontualmente às 17h50 formando um desenho de serpente no ceu durante uns 30 minutos. Mais um espetáculo para nossos olhos.

Trem de Bambu

Nós 4 no passeio em Battambarg

Revoada dos morcegos

Voltamos para Sien Reap de barco, uma viagem de 9 horas, em um rio estreito e cheio de curvas. Frio, barulhento, desconfortável e lento. Passamos pelas vilas em torno do rio com as casas de palafita muito simples observando a vida como ela é. Os tradicionais hello e bye bye das crianças deixaram o passeio mais alegre. Mas não menos duro.

Comer foi uma diversão, não tanto pela comida, que apesar de boa não tinha nada de muito especial, mas sim pela companhia da Anita e do Rene que adoram a hora de comer, assim como nós. Com 2 casais mão de vaca não podia dar outra, sentávamos nos restaurantes mais baratos que encontrávamos e nos deliciávamos com o amok (uma peixada com leite de coco), fried noodles e arroz com frango. Religiosamente tomando café da manhã, almoçando e jantando todos os dias. Um dia encontramos uma balança e todos se pesaram, menos eu, afinal o que os olhos não veem o coração não sente.

Arroz com frango, super simples

Amok de peixe

No ultimo dia no país nos despedimos dos dois depois de quase 1 mês viajando juntos. Nos identificamos logo de cara, foi um alento para a alma encontrar um pouco da cultura latina, falar a mesma língua mesmo que em línguas diferentes. Um casal muito querido, divertido, leve, descomplicado, que passa pelos mesmos perrengues mochileiros que a gente e que valoriza as coisas simples da vida. Anita e Rene, obrigada por compartilhar nossas viagens, nossos sonhos e nossos devaneios, foi uma companhia muito amável que vamos carregar para sempre em nossos corações.


Nossa despedida, na guest house

Foi uma passagem rápida pelo Camboja, o suficiente para os principais pontos turísticos, mas insuficiente para me deixar envolver. Valeu pelas ruínas de Angkor, pela companhia dos amigos chilenos, pela comida boa e cerveja barata. E continuamos caminhando, cada vez mais para o sul da Ásia.

10 dias no Camboja

Bom pessoal,

Chegamos em Phnon Penh, no Camboja, desde Saigon de ônibus. Foi uma viagem tranquila e confortável. Chegamos mas não tínhamos hotel reservado. A recepcionista do hotel em Saigon tinha nos avisado para reservar com antecedência porque era alta estação. Resultado: andamos por quase duas horas a procura de um hotel. Mas no final encontramos um bom e barato: US$ 12,00 por noite. Estávamos nós, o René e a Anita. O Camboja é um país pobre, sujo, com uma maravilha do mundo de principal atração e outras coisinhas: a maravilha é a região de Angok em Siem Riep e as outras são a história da guerra, alguns mercados e outras. Depois falo mais. Uma curiosidade aqui é nos caixas eletrônicos se saca dólar americano e não a moeda local. Fica mais fácil, mas achei que as coisas são um pouco mais caras em relação aos outros países do sudeste asiático, nem por isso são caras se comparadas com o Brasil.


Palácio Real
Depois de bem instalados, no dia seguinte seguimos para conhecer o Palácio Real, o mercado central e andar pelas ruas do centro. Como o Rei ainda mora no palácio não se poder entrar nele todo, mas o que deu para perceber é que é muito parecido com o da Tailândia. Na verdade é o da Tailândia que é parecido com o daqui, porque a arquitetura é típica do Camboja. Mas o da Tailândia é mais bonito, mais bem conservado. O mercado central é bem grande e com tudo de bugiganga que se possa imaginar. Comprei até um óculos da Oakley por US$ 5 que não durou 10 dias. No dia seguinte fomos conhecer a história da guerra que ocorreu aqui no período de 1975 a 1979. Apesar de curta ela foi muito trágica. Depois de longos períodos de desentendimentos, tomadas de poder de parte a parte, e pequenas guerras, um grupo de militares, o Krmer Vermelho, tomou o poder e instalou um regime que deturpava os conceitos de tudo. Cansados de tantas guerras o povo até comemorou a chegado ao poder dos “vermelhos”, pois imaginavam que as coisas iriam melhorar mas ninguém sabia que o pior ainda estava por vir. Foi um verdadeiro holocausto, uma limpeza étnica. Eles deturparam a palavra democracia porque segundo eles o regime implantado era democrático, deturparam as escolas que foram transformadas em prisões, deturparam as prisões que na verdade eram campos de extermínio, deturparam o ensino que não era necessário nem importante pois o que importava era produzir no campo e obedecer o regime, deturparam a vida e deturparam a morte. É quase impossível de acreditar, mas eles expulsaram todas as pessoa das cidades e as enviaram para o campo. Phonm Penh ficou deserta. Os que questionavam, desobedeciam, não sabiam trabalhar no campo ou até mesmo que sabiam ler e escrever ou mesmo os que usavam óculos eram considerados ou traidores ou desnecessários. Muitos foram enviados para o campo para realizar trabalhos forçados e desses milhares morreram de fome, sede ou foram assassinados. Até crianças foram obrigadas a trabalhar como escravos. Em quatro anos, acredita-se que mais de 2 milhões de pessoas foram mortas ou quase 30% da população. A escola que visitamos em Phonm Penh foi o maior “presídio” do regime, conhecido como S21, passaram por lá mais de 22 mil pessoas, entre homens, mulheres, crianças e idosos. Desse total apenas 7 pessoas saíram de lá com vida. Existem muitas fotos, relatos e histórias. Essa foi uma das piores histórias de guerra que já escutei na vida. Não fomos nem conhecer o campo de extermínio que fica a 15 quilômetros da cidade pois aquilo já tinha sido suficiente. Voltamos andando para a região do hotel e almoçamos pelo caminho. Nessa noite ficamos no hotel e no dia seguinte seguimos de van para a cidade de Siem Riep.


Primeiro dia: Angkor Wat...




Siem Riep é a cidade da região de Angkor Wat, uma das maravilhas do mundo (e merece o título). É uma cidade bem turística, com muitos hotel, para todos os gostos e bolsos, muitos bares e restaurantes (chopp por US$ 0,50) e é bem movimentada. Contratamos um tuk tuk e no dia seguinte seguimos para conhecer a maior atração do Camboja: a região de Angkor, com seus templos e cidades. Angkor Wat é o maior templo religioso já construído e mudou de religião algumas vezes nesse período. Primeiro foi Hinduísta, depois Budista, voltou a ser Hinduísta e por fim ficou sendo Budista. O templo é maravilhoso, com muitos desenhos nas paredes, uma arquitetura única e é todo feito de pedra. Cercado por um grande fosso, uma muralha e com um grande jardim em volta, o lugar todo é muito grande. Com o declínio da região, a cidade foi abandonada e apenas no templo de Angkor Wat, alguns monges budistas permaneceram. Com isso a preservação desse templo foi total. Os outros templos ficaram à mercê da natureza por mais de 300 anos e as árvores engoliram as construções criando paisagens surreais. Em Angkor Wat pode-se ver com detalhes a beleza dessas construções. No primeiro dia de visita fomos para: Angkor Wat, Ta Prohm, Bayon e Phonm Bakheng onde vimos o pôr-do-sol. O templo de Ta Prohm é onde as árvores mais engoliram as construções. Esse templo já foi cenários de alguns filmes como: Indiana Jones, Tomb Raider entre outros. Mas infelizmente a Angelina Jolie não estava por lá. É quase inacreditável as árvores monstruosas sobre os tetos de pedras dos templos. Com certeza as fotos são melhores que as palavras. E também fomos no templo de Bayon que é cheio de rostos esculpidos nas paredes. Foi um dia maravilhoso e foi só o primeiro. 


Ta Prohm...




Bayon...




No segundo dia começamos bem cedo, às 5:00h da manhã, para ver o nascer do sol de Angkor Wat. Mas como essa atração é obrigatória, estávamos nós e todos os outros turistas. Quase não deu para ver. Nesse dia fomos conhecer os templos mais distantes e a cidade de Angkor Thom e suas ruínas. Mas a verdade é que depois de ver os principais no dia anterior, os outros foram pouco surpreendentes. 


Segundo dia: amanhecer em Angkor Wat

Angkor Thom...





No terceiro e último dia voltamos para apreciar mais uma vez os templos de Ta Prohm (e a Angelina Jolie não apareceu) e Angkor Wat, onde terminamos o dia.


Terceiro dia: Ta Prohm...





e Angkor Wat




De Siem Reap fomos para Battambang para um “bate-e-volta” de duas noites. Essa é uma grande cidade com algumas atrações e a melhor foi, como posso dizer, uma revoada de morcegos com horário marcado: exatamente as 5:45 os morcegos começam a sair de uma caverna e eles são tantos que durante os primeiros 15 minutos o fluxo é muito intenso. Depois diminui um pouco mas o processo todo demora mais de 1 hora. Muito interessante de ver. As outras coisas eram templos e um “trem de bambu”. Na verdade são plataformas de bambu em cima de eixos pequenos de trem. A linha está desativada então eles aproveitaram para criar uma atração. O passeio todo de ida e volta leva quase uma hora e não se ver muita coisa. No final passeamos por uma vila e foi só. Nesse passeio conhecemos um espanhol que estava viajando, desde o Laos, de bicicleta. Até que fiquei com vontade, mas passou rápido. Fiquei cansado só de pensar.


Trem de bambu
Bat Caverna
Para voltar para Siem Reap utilizamos o transporte mais lento mas o mais cênico. O problema é que em uma hora se vê tudo que tem pra ver e nas outras 8 horas da viagem não se vê muita coisa diferente. E ainda mais sentado em uns bancos de madeira, nada confortáveis, a viagem não foi muito agradável. Mas chegamos em Siem Reap para passar nossa última noite no Camboja e nossa última noite com nossos companheiros de viagem das últimas três semanas: desde o Vietnam até aqui. Saímos para jantar em um restaurante que gostamos, depois compramos um vinho chileno e uma bebida de bambu da Coreia do Sul e voltamos para o hotel para conversar e nos despedir. Daqui em diante seguimos roteiro opostos: nós fomos para a Malásia e eles foram para o Laos.

René e Anita, foi maravilhoso viajar com vocês, tivemos muitos momentos agradáveis, boas conversas e excelentes jantares. Voltamos para casa com a certeza de que temos novos-velhos amigos no Chile. Obrigado por tudo. Nos vemos em breve em qualquer lugar que a gente queira: no Brasil, no Chile ou do outro lado do mundo. Grande abraço.

E assim nos despedimos do Camboja e dos amigos queridos. Agora estamos em Kuala Lumpur, cidade grande e moderna. Na semana passada completamos 9 meses de viagem. Agora não contamos mais os meses que se foram, mas quantos meses ainda faltam e não faltam muitos, 3 meses, em Abril estamos de volta.

Angkor Thom

Angkor Wat


Valeu.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vietnam - Parte Dois

Bom pessoal,

De Hoi An partimos para Dalat, uma cidade nas montanhas com um permanente clima de primavera e segundo o guia que temos, em estilo francês. Foram 12 horas em um ônibus noturno até Nha Trang e de lá em um micro-ônibus, mais 5 horas até Dalat. Chegamos e ficamos no hotel onde o ônibus parou, a 5 minutos do mercado central, por US$ 10 a noite. Deixamos as malas e fomos procurar um lugar para almoçar e caminhar um pouco. E andando pela cidade não consegui perceber o tal “estilo francês” da arquitetura mas a cidade é bem bonita, clima agradável e com um grande lago bem no meio. Depois de andar um pouco fomos passear de pedalinho e curtir um pouco o sol que a muito tempo não víamos. Nessa noite nos encontramos novamente com o René e a Anita, que já estavam na cidade, para jantar. Primeiro comemos uma tortilha na rua muito gostosa e depois fomos para um restaurante comer a sopa de noodles com carne do Vietnam: o Pho Bo (Fô Bô). No jantar percebemos que daqui em diante, até o Camboja, iriamos fazer o mesmo roteiro e decidimos faze-lo juntos.
Lago em Dalat


Fábrica de Seda



No dia seguinte contratamos um tour pela região para conhecer algumas plantações, uma vila, uma cachoeira, um templo e outras atrações na cidade. A região é produtora de flores, café, frutas e hortaliças. Visitamos também uma fábrica de seda onde eles, a partir do casulo, produzem a linha de seda. Fomos a umas estufas de flores e depois do almoço fomos a uma fazenda de café e lá provei o café mais famoso do Vietnam: o café moca-weasel, onde moca é tipo de café e weasel é o nome do “gato” que é parte no processo de “melhoria da qualidade” do café. Ou seja, esse é o café feito a partir dos grãos de café encontrados no cocô do gato. Ou seja, é café de cocô de gato. O gato é natural desse região da Ásia e ele come os grãos de café, como o grão é muito duro ele passa inteiro pelo processo digestivo do gato resultando em um grão de melhor qualidade com menos acidez e mais saboroso. É realmente um excelente café, um pouco caro em comparação com os cafés “normais”, mas realmente muito bom. Não poderia sair do Vietnam sem experimentá-lo. Desde que assisti o filme The Bucket List, eu tinha curiosidade de experimentar. Feito.


Café In Natura
Café em processamento
Café limpo e seco
Produto Final

No dia seguinte seguimos viagem para Saigon ou Ho Chi Ming, o nome oficial a quase 40 anos. Mas todos no sul preferem chamar a cidade de Saigon mesmo. E Saigon é uma cidade bastante moderna com uma região turísticas bem movimentada. Procuramos um hotel nessa mesma região mas do lado mais tranquilo. Chegamos já no final dia e saímos apenas para pesquisar preços dos tours para o Delta do Rio Mekong e para jantar. E a menina do hotel nos recomendou um restaurante na rua de trás que tinha todos os requisitos básicos: bom, barato e gostoso. No primeiro dia em Saigon fomos visitar o museu da guerra do Vietnam (que aqui é a Guerra Americana, Guerra do Vietnam é só para turista) e vimos muitas fotos dos horrores da guerra que durou mais de 17 anos, primeiro apenas entre os vietnamitas do norte contra os do sul, apoiados indiretamente e respectivamente, pela Rússia e pelos Estados Unidos e posteriormente (a partir de 1964 até 1975) com a entrada direta do Estados Unidos apoiando o Sul contra o Norte (comunista). O principal objetivo dos Estados Unidos aqui era evitar o avanço do comunismo na região. Todos sabem como acabou a guerra.  Sai com a sensação/dúvida/questionamento de como em tão pouco tempo os vietnamitas conseguiram esquecer todas as mazelas e seguir em frente, pois não se perceber nenhum tipo de rancor ou ódio ou mesmo mimimi em relação aos americanos. Nesta mesma noite tivemos a oportunidade de questionar um casal que conhecemos em Dalat, de Saigon e que nos convidaram para jantar. O Tony e a Shirlene são muito simpáticos, atenciosos e hospitaleiros, e no jantar conversamos de tudo um pouco. E sobre a guerra eles apenas disseram que a guerra era história e que era necessário seguir em frente. A geração deles já nasceu no pós-guerra e a guerra não era mais assunto presente, era passado. Mudamos também de assunto e passamos a falar de coisas mais gostosas: comidas em geral e do Vietnam em particular. “Mó” papo de gordinho. Obrigado a René e Anita e ao Tony e Shirlene pelos bons momento e pela conversa fácil e agradável. Voltamos para o hotel e no dia seguinte fomos conhecer, primeiro um templo de uma nova religião e depois os túneis de Cu Chi, região onde os vietcongos ou VC (Vietnamitas Comunistas) construíram uma rede de tuneis para se esconder e atacar as tropas americanas. A rede de túneis tem mais de 200km, são túneis bem pequenos e apertados e bastante camuflados na paisagem. No outro dia começamos bem cedo: às 7:00hs fomos para o delta do rio Mekong.

Túneis em Cu Chi
Fomos de ônibus para o Delta mas lá trocamos por um barco e navegamos pelo rio, primeiro de canoa e depois em um barco a motor. Depois bebemos chá com mel local, comemos frutas produzidas na região, bebemos cachaça de arroz (com cobra dentro da garrafa), experimentamos doce de coco, almoçamos em uma das ilhas e só depois fomos para o hotel em Can Tho. À noite fomos conhecer a cidade e suas feirinhas de rua e as várias comidinhas. Conhecemos nesse passeio um casal brasileiro: o Nicolas (que na verdade é sérvio) e a Melina, a também brasileira Taís, que está viajando já faz seis meses, o Rodrigo do Chile e a Natália da Espanha. Foi muito divertido compartilhar histórias, experiências e visões sobre vários lugares pelos quais todos passaram. Dormimos em Can Tho e no dia seguinte saímos para conhecer o mercado flutuante (para locais) da cidade. Cheio de barcos que trazem verduras e frutas das fazendas próximas para vender para distribuidores, comerciantes e restaurantes, é um mercado bem original, sem muito glamour, beleza, mas verdadeiro, como sempre foi desde muito tempo e que não foi “remodelado” para turistas. Depois disso fomos conhecer uma vila, mas agora de bicicleta: andamos por uma hora em pequenas ruas de concreto no meio do mangue, com muitos canais e algumas casas onde as crianças faziam questão de nos cumprimentar com um sonoro “Hello”. E quando eu respondia com um “Shin Jaw” (olá em vietnamita) todas sorriam assustadas e nem conseguiam responder. Foi um passeio muito agradável. Em um determinado momento paramos sobre uma ponte, logo depois de um bar onde alguns homens estavam bebendo. Um senhor então me ofereceu uma dose da cachaça de arroz mas eu recusei. Olhei para o outro lado e nem notei quando ele veio em minha direção e me perguntou já com a mão no meu ombro: “Porque não?”. Surpreso com a pergunta, a única resposta foi: “Por que são 8:30 da manhã.” Como a resposta não colou muito (ele já estava bêbado), tomei a dose de cachaça de arroz (uma delícia) mas só depois de uma foto para a posteridade. No final do passeio o pneu da bicicleta da Raquel ainda furou e ela voltou na minha garupa. Tivemos também a oportunidade de comer algumas iguarias vietnamitas mas recusamos todas: churrasco de cobra, sapo ou rato (quem provou aprovou). Voltamos para Can Tho e depois do almoço (arroz com porco) voltamos para Saigon. No nosso último jantar em Saigon e no Vietnam, voltamos ao mesmo restaurante que tínhamos ido com o Tony e a Shirlene. E juntos com o René, a Anita e a Taís nos despedimos do Vietnam. Foi uma maravilhosa visita, gostei muito de todos os lugares (apesar do clima não ter ajudado no início), das comidas e das pessoas. Inesquecível.

Feira flutuante no Rio Mekong

Vila no Delta do Rio Mekong
Valeu.