O que parecia uma grande loucura e um sonho distante se
tornou a mais pura realidade. E nós fizemos, abrimos um parêntese em nossas rotinas
para viver o melhor ano de nossas vidas. Uma volta ao mundo, um ato de coragem,
uma realização imensa, uma vivência como jamais tínhamos imaginado. Sempre
gostamos de viajar e achávamos que dar uma volta ao mundo seria como juntar 12
férias e viajar por aí. A verdade é que passar um ano mochilando por países
pouco convencionais com orçamento limitado foi uma experiência de vida. Uma
experiência linda, que emociona e que transforma. Não foi apenas uma viagem
para conhecer lugares, foi uma jornada para conhecer pessoas, para acreditar no
bem, na força e na fé. Conhecer modos de vida tão diferentes do que estamos
acostumados me levou a várias reflexões do que achamos que é certo ou errado.
Foi uma viagem dentro de nós mesmos, desafiando nossas referencias todos os
dias. Vi meu outro lado, mais legal, mais divertido, que sorri mais, que se
preocupa menos, que topa qualquer coisa e que precisa de pouco, mas de muito
pouco para ser feliz.
A nossa rotina passou a ver e a sentir o novo todos os dias.
Cada dia uma descoberta, cada dia uma surpresa, cada dia um pensamento. O tempo
foi nosso maior aliado nesse ano, tivemos tempo para nós mesmos, para fazer o
que quiséssemos, do jeito que quiséssemos, quando quiséssemos. Um sentimento de
liberdade, de aventura, de incerteza de onde íamos dormir a cada noite. Um
desafio de tomar decisões todos os dias, de compartilhar e de amar.
Tenho um milhão de lembranças que agora, passados 12 meses,
já parecem distantes. Vi o mundo de diferentes perspectivas, de cima de um
balão na Capadocia, debaixo do mar na barreira de corais de Cairns, nas areias
do deserto do Saara. Me emocionei quando me deparei com a energia do Muro das
Lamentações em Jerusalém, com a suntuosidade do TemploTodaiji em Nara e quando
contemplei a pureza do amanhecer no Taj Mahal. Descobri o valor de um sonho
realizado quando caminhamos por 13 dias no trekking até o campo base do
Everest. E a simplicidade e o sorriso de Myanmar não saem da minha cabeça.
Conhecemos o outro lado da nossa cara metade, a verdade nua
e crua sem retoques. Não foram poucas as vezes que contamos até 10, nossa
palavra chave foi paciência. Nosso amor ficou “cascudo”, nada de conto de
fadas, de príncipe e princesa. Mas junto com isso veio uma cumplicidade e um
companheirismo que talvez nunca descobríssemos se estivéssemos em nossa casa. Antes
de sair do Brasil brincamos que se conseguíssemos voltar juntos, ficaríamos
juntos o resto da vida. Acho que deve ser nosso destino.
Percebi algumas pequenas coisas que me enchem de prazer:
andar descalça, sentir o cheiro de arroz recém cozido, acordar sem despertador,
comer batata frita. Faz um ano que não uso salto alto nem maquiagem. O mesmo
tempo que não corto cabelo nem pinto minhas unhas. Descobri o prazer da leitura
e da televisão desligada. Escrever o blog foi uma descoberta, vi uma forma de
conversar comigo mesma e organizar meus sentimentos, logo eu que não sou de
falar sobre eles, me peguei escrevendo sobre minhas emoções mais genuinas.
Estou escrevendo com um aperto no coração como nunca senti
antes. A emoção do sonho estar terminando me faz olhar pra tras e reviver tudo
que passamos nesses últimos meses. Um ano sensacional. Meu olhar sobre o mundo
mudou, tenho novas referencias e novos significados. Minha alma esta mais leve.
O outro lado é que também queremos voltar. Estamos com
saudades das pessoas queridas que fazem parte do nosso dia a dia, da comida brasileira,
da nossa casa, da nossa rotina e até mesmo do mundo corporativo.
A verdade é que a viagem não tem fim. O que vimos, vivemos e
sentimos vão ficar para sempre em nossas memorias. Voltamos felizes e
realizados de um grande sonho. E agradecidos, muito agradecidos, por termos vivido
tudo isso em um mundo realmente maravilhoso.
Ra e sua escrita surpreendentemente inspiradora. Ansiosa pra te rever :) Saudades!
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