Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Nova Zelândia: Keep Left

Bom pessoal,

Keep Left: esse foi o principal aviso que recebi aqui. E o mais importante também. Chegamos no sábado na cidade de Christchurch e já no domingo alugamos nossa Campervan, ou seja, um carro (uma pequena van) que era nosso transporte, restaurante e hotel tudo no mesmo lugar e em qualquer lugar. E como aqui eles dirigem do lado “errado” da rua (esquerdo), esse foi o conselho que mais ouvi na locadora, no posto de gasolina e pelas rodovias. E apesar do receio inicial de dirigir do lado esquerdo, até que me acostumei rápido, somente trocava a alavanca da lanterna (sinaleira) com a do limpador de para-brisa que também ficam trocado. No mais tudo certo. E já aviso que as rodovias daqui foram as mais bonitas que já andei e portanto as fotos devem ficar um pouco repetitivas.

Chegamos na cidade de Christchurch na madrugada do sábado e nos hospedamos em um hostel em quarto compartilhado. Eram cinco camas. Chegamos no hostel as 2 da manhã e acordamos todos as outras 3 pessoas que estavam por lá mesmo tentando não incomodar e fomos direto dormir. Com dia claro fomos conhecer a cidade ou o que resta dela, infelizmente. Acho que essa é a maior cidade da ilha sul mas ela foi assolada por dois terremotos nos anos de 2010 e 2011. O primeiro não fez muitos estragos mas o segundo praticamente destruiu todo o centro antigo, deixando-o praticamente sem construções. São vários quarteirões vazios ou com prédios abandonados/condenados e outros com máquinas de construção. Mas aqui era só uma parada para começar nossa aventura. Como já falei, no domingo alugamos uma Campervan e partimos para o sul e para o desconhecido.

Centro de Christchurch
Pegamos o carro no domingo à tarde e eu não queria dirigir muito tempo no primeiro dia. Só pra me acostumar. Fomos primeiro ao supermercado, garantir o jantar, e partimos com destino a cidade (zinha) de Waimate, na costa leste da ilha sul. Existe uma estrutura de camping na Nova Zelândia que é inacreditável. Deve ser o paraíso para quem gosta desse tipo de viagem. Existem camping cinco estrelas com uma estrutura de facilidades e de lazer completa (onde se paga de 11 a 45 dólares por pessoa) e também camping públicos com apenas o banheiro e nada de banho (onde se paga entre 6 a 10 dólares por pessoa). E eles estão em todo lugar. O nosso primeiro camping era da categoria low cost mas não era público, ou seja, tinha banho quente e cozinha mas nada mais, no meio de um parque. Tinham uns outros 4 carros estacionados e pela estrutura que tinham ao redor parecia que as pessoas moravam ali. Estacionamos e fomos “verificar” como a coisa funcionava e na entrada do banheiro tinha uma “Caixa da Honestidade” (Honest Box) e as instruções de o que pode e o que não pode e o preço por pessoa (11 dólares). Daí apareceu um tiozinho de um desses carros e nos entregou um envelope onde deveríamos colocar o dinheiro, algumas informações: nome, procedência, número da placa do carro e depois colocar na tal caixa. Simples assim. Tomamos banho, jantamos na cozinha do camping e depois fomos dormir. E assim passamos nossa primeira noite na campervan. Dormi com uma preocupação, acho que natural, em relação a segurança, se tudo ia correr bem, se ninguém ia aparecer durante a noite, se podíamos confiar, essas coisas, coisas de primeira vez. E foi isso mesmo, só pensei isso nessa noite.

Primeiro camping
O dia seguinte amanheceu bastante nublado e permaneceu assim até o dia seguinte. Seguimos viagem com destino ao sul e passamos pela cidade de Oamaru, uma cidade histórica com prédios antigos, de arquitetura inglesa e uma praia onde aparecem pinguins e leões marinhos. Seguimos viagem e paramos na estrada para almoçar. Existem pequenos campings na estrada onde se pode parar mas não se pode pernoitar. Depois do almoço chegamos a cidade de Dunedin, uma grande cidade com um i-site, um centro de informações turísticas (toda cidade aqui tem uma). Entramos e depois de pegar alguns panfletos fui pedir informações sobre os preços dos campings na cidade. A mulher que nos atendeu nos informou sobre todos os campings na cidade, mas eu perguntei sobre um outro na cidade vizinha, como ela não sabia, pegou o telefone e ligou, se informou (e era mais barato) e ainda fez a reserva para nós. Fiquei impressionado e fã. Agora em toda cidade a primeira coisa que fazemos é ir no i-site se temos alguma dúvida.

Segundo camping
Fomos recebido por um senhor, no seu trailer, que nos informou todas as regras e onde poderíamos estacionar. Era um camping urbano completo com cozinha, banheiro, lavandeira, TV, ao lado de uma piscina pública e de uns campos de futebol ou rúgbi ou críquete, tanto faz. Quando estávamos jantando, um casal de franceses de 20 e poucos anos chegou e começamos a conversar. Eles estavam fazendo exatamente o caminho inverso do nosso e nos deram várias dicas, principalmente sobre a região dos fiordes. Essa foi a noite mais fria de todas. Aqui é final de verão, como no Brasil, mas as temperaturas são iguais as da Patagônia (mediano 45), então durante à noite elas caem até 5 graus ou mais. Durante o dia, se fizer sol, a temperatura fica em torno de 20 ou 25 graus. No dia seguinte atravessamos a ilha para o lado oeste e viajamos até a cidade de Te Anau, na região dos Fiordes. A cidade é muito bonita com excelente estrutura mas a principal atividade aqui é ir para Milford Sound e fazer um cruzeiro pelos fiordes. A dica aqui era para chegar cedo, antes da 9 da manhã para pegar o primeiro cruzeiro que além de mais barato tem poucos turistas. Mas como Milford Sound fica a 120 quilômetros de Te Anau ou 2 horas de viagem pela mais bela rodovia que já tinha andado até esse dia, resolvemos ficar em um camping público no meio do caminho. Seria nosso primeiro camping de verdade: Cascade Creck, um campo aberto com apenas banheiros e nada mais. Banheiro tipo banheiro químico mas quando você abria a tampa do vaso dava para ver o buraco meio cheio meio vazio de tudo que é coisa que faz em um banheiro. Mas não tinha cheiro. Menos mal. Estacionamos, pagamos, arrumamos nossa mesinha, a Raquel fez uma sopa, jantamos tomando vinho e às 9:00hs fomos dormir. A noite foi fria mas muito tranquila, acordamos quase as 7:30h, e saímos correndo para conseguir chegar em Milford Sound a tempo. Pegamos o barco das 9:15h e fizemos um cruzeiro de quase 2 horas. Valeu muito. O cruzeiro já teria valido o passeio mas a estrada foi o melhor. As paisagens, as montanhas, os desfiladeiros, as curvas e até mesmo o túnel foram surpreendente. Voltamos para Te Anau, passamos no supermercado e fomos para um camping com estrutura total para, primeiro, fazer um churrasco e segundo para tomar banho. Compramos umas asinhas de frango com molho teriaki e dois bifes de 400 gramas cada. Não conseguimos comer tudo. O segundo bife ficou para o dia seguinte.






Manhã do dia do nosso aniversário
E o dia seguinte amanheceu sem nenhuma nuvem no céu. Era o dia do nosso aniversário de 10 anos de casado e estava perfeito. Tudo azul. Azul Céu de Brasília. E assim seguimos para Queenstown, um destino obrigatório para quem vem a Nova Zelândia. A cidade dos esportes e aventuras radicais. Mas não fizemos nada radical. Talvez a coisa mais radical que fizemos aqui foi ficar 2 dias sem banho, mas isso não pode ser considerado exatamente uma coisa radical depois dos oito dias que passamos no Nepal. Queenstown fica às margens do lago Wakatipu, na parte central do lago. Viemos pelo sul e começamos a parte mais bonita de todo o caminho por Kingston. Desde Kingston até Queenstown o visual é deslumbrante. O lago, as montanhas, as cidades, o céu azul, tudo em perfeita harmonia. Paramos para almoçar em Kingston e depois seguimos, vagarosamente, em direção a Queenstown. Paramos várias vezes para fazer fotos. Chegando na cidade e vimos como ela é turística. O centrinho é cheio de lojas de todo tipo, restaurantes para todos os gostos, hotéis para todos os bolsos. Mas nós queríamos mesmo era ficar em um lugar barato e com vista para o lago. Então resolvemos fazer assim: economizamos no camping e gastamos tudo no jantar de aniversário. Fomos para um camping público, sem estrutura (apenas banheiro e água corrente), barato (NZ$ 20,00) e gastamos as economias no jantar. Compramos queijos, champanhe, carne, frango, vinho e pão. Quer mais o quê? Fizemos uma entradinha com os queijos, o pão e o champanhe e depois fiz um churrasco e bebemos vinho. Tudo ao ar livre. Não tomamos banho mas dormimos bem satisfeitos e ainda por cima, vendo as estrelas, porque caso ainda não tenho contado, nosso carro tem teto-solar. E toda vez que eu acordava durante a noite e olhava para cima, via as estrelas. Era até difícil voltar a dormir. Ficava só admirando.




Nosso jantar de aniversário
Depois do café, no dia seguinte, seguimos para Grenorchy para conhecer o lado norte do lago. E depois de lá seguimos até o Paradise. Esse é o nome do “vilarejo” seguinte. Voltamos para Queenstown e decidimos procurar um camping pago e com banho. Procuramos o camping pago mais barato (NZ$ 30,00) mas a muvuca era tanta que não quis ficar. A próxima opção nessa categoria custava NZ$ 50,00, impensável. Então a solução foi voltar para o camping público, sem estrutura mas com um visual maravilhoso. Mas só para garantir que o cheiro seria suportável, compramos também umas toalhinhas umedecidas. Tudo certo. E dessa vez comemos um espaguete à bolonhesa. Com vinho, claro.





No sábado houve um festival de vinho e comida local na cidade e também um encontro de Harley-Davidson. Às 10 horas da manhã, no centro da cidade, todas partiram para um passeio. Tinham mais de 200 motos. E seus felizes donos estavam todos, claro, de preto como manda o figurino. Não ficamos no festival e seguimos viagem com destino a Wanaka com passagem por Arrowtown, uma antiga cidade da época da corrida do ouro. E quem estavam lá? Todos os motoqueiros. A rua central foi fechada para que eles pudessem estacionar. E tinha cada figura. Seguimos viagem morro acima até a cidade de Wanaka. Aqui ficamos em um camping pago. Na cozinha, à noite, estávamos pensando que não tínhamos visto brasileiros pelo caminho. Somente em Queenstown mas não em campings, passando “necessidades”. Ai apareceu o Júlio, um cara de Santa Catarina que é mais maluco que nós. Ele estava (e está enquanto escrevo) viajando de bicicleta. Quando ele falou isso só lembrei da subida da serra até chegar em Wanaka. Devia ter umas quinze curvas-cotovelo de tão íngreme. “Devagarinho se chega”. Ele costuma pedalar 60 Km por dia em duas etapa, com parada para almoço. Tem tudo que precisa na bike: fogareiro, barraca, saco de dormir, comida. Pedala a mais de 20 anos mas não é profissional, só por diversão. Deu até vontade de comprar uma bike mas ela passou rápido. Resolvemos ficar mais uma noite na cidade mas em outro camping, um fora da cidade e com churrasqueira. Mais um churrasco. E nesta noite tínhamos que tomar uma decisão: seguir pela parte central ou tomar o rumo do lado oeste. Inicialmente iriamos para a costa oeste mas os franceses nos disseram que a parte central era mais bonita e com mais atrações. Resolvemos seguir o concelho deles e foi muito bom. 






De Wanaka seguimos com destino ao Mt. Cook. No caminho resolvemos parar em uma vinícola na estrada e experimentar o vinho local. O vinho era bem mais caro do estamos acostumados a pagar mas ficamos conversando com o dono da vinícola um bom tempo, fizemos uma pequena degustação e saímos satisfeitos. Paramos ainda em uma fazenda de salmão. Segundo eles a mais alta fazenda de salmão do mundo. Não sei se isso faz alguma diferença mas que o salmão era bom era. Era salmão fresco, sem congelamento. Compramos dois filezinhos para acompanhar o vinho especial. No caminho do parque tem um lago e o lago é inacreditavelmente AZUL. Um azul tão azul que parecia artificial. N parque ficamos o camping é público, mas tinha um espaço fechado que servia de cozinha, sem nenhum utensílio, só o espaço. Mas fizemos nosso jantar do modo tradicional, ao ar livre. Comemos o salmão, bebemos o vinho e fomos dormir. Durante a noite, às vezes soprava um vento tão forte que até o carro balançava, mas dormimos bem. Depois do café fomos conhecer o Mt. Cook mais de perto, uma caminhada de 3 horas ida e volta. O caminho é bem bonito, mas quando chegamos no lago, que tem um glacial e fica em frente ao monte, o vento era tão forte e frio, foi impossível ficar lá por mais de 10 minutos. Voltamos, almoçamos no camping e partimos com destino ao Lago Tekapo. O lago é famoso pela cor da água, que, na verdade, é da mesma cor do outro lado, o lago do Mt. Cook.



Chegamos por volta as 16 horas e depois de fazer o check-in fomos para o supermercado e compramos tudo para fazer mais um churrasco. E a área da churrasqueira no camping tinha a de melhor vista para o lago. Foi uma tarde/noite maravilhosa. Mas deixei para fotografar o lago no outro dia e durante a noite o tempo virou e a cor azul, prometida, estava cinza sem nenhuma beleza. Resolvemos ficar mais uma noite, não só por causa do tempo mas também porque o lugar era muito bom. Nessa noite, no jantar conhecemos o segundo brasileiro por aqui, na verdade uma brasileira. A Andreia é de São Paulo mas vive a 10 ano no Havaí e é uma triatleta profissional. Tinha vindo para a Austrália para uma competição e aproveitou para passear um pouco pela Nova Zelândia. Mas ela não faz triátlon comum, ela corre o Iron Man. São 3,8 Km de natação, 180 Km de bicicleta e mais uma Maratona (42 Km). Dá pra acreditar? Cansei só de pensar. E nós só comendo carne e bebendo vinho.



No dia seguinte, com o céu mais aberto revisitamos todos os lugares para ver o lago novamente e depois partimos com destino a Akaroa, uma cidadezinha na península de Banks, próximo a Christchurch. Esse foi a única cidade da Nova Zelândia que foi de colonização francesa. Depois de subir e descer montanhas e mais montanhas chegamos na cidade e fomos procurar um camping. Eram três as opções: a primeira teríamos que voltar uns 6 km e era a mais barata, a segunda era na cidade mas era a mais cara e a terceira era 6 km depois da cidade e tinha um preço razoável. Escolhemos a terceira opção e o camping ficava no final da estrada, encima de uma colina com vista para a baia e as montanhas. A cozinha ficava, estrategicamente, com as pias e o fogão virados para a lado mais bonito. E essa foi a mais bela vista que tivemos pelos campings que passamos (pelo menos na ilha sul). Muito bom o lugar. Tivemos uma excelente noite. No dia seguinte partimos para Christchurch pois no sábado tínhamos que devolver a Campervan e pegar o outro carro, agora um carro normal, para seguir viagem para a ilha norte. E pra fechar com chave de ouro essas duas semanas que passamos com a campervan, fizemos mais um churrasco com tudo que temos direito, inclusive duas garrafas de vinho.


Akaroa
No sábado devolvemos a campervan (rodamos mais de 2.500 Km com ela) e pegamos o carro. Esse segundo carro foi no esquema de realocação. Funciona assim: alguém aluga um carro em uma cidade e entrega em outra, então a empresa precisa retornar com o carro para a primeira cidade mas para isso eles precisam de um motorista, no caso eu. Eles cobraram um preço simbólico (5 dólares por dia), pagaram o ferry para o carro (para passar da ilha sul para a ilha norte) e nos deram cinco dias para fazer o trajeto. Fizemos os cálculos e 5 dias seria suficiente para fazer a viagem e ainda aproveitar alguns locais que queríamos ver. Antes do meio-dia seguimos viagem.

Nesses cinco dias fizemos muitas coisas e fomos a muitos lugares: dirigimos pela via costeira da região de Kaikoura, atravessamos a região dos vinhedos em Malborough, pegamos o ferry entre as duas ilhas, desde Picton até Wellington, assistimos a final da copa do mundo de criket entre Austrália e Nova Zelândia na praia de Paraparaumu (e depois de mais de 7 horas de jogo a Austrália se sagrou campeã), fomos no lago e na cachoeira em Taupo, vimos o Gaisel e sentimos o cheiro podre dos poços de lama na região termal de Rotorua e dormimos em um hostel/fazenda com vista privilegiada para o vale e para o narcer-do-sol em Pukekama (o mais bonito da ilha norte) antes de chegar em Auckland, a maior cidade. Andamos nessa etapa mais de 1.200Km, somados aos da primeira etapa, no todo, viajamos mais de 3.700 Km neste país de paisagens inesquecíveis.

Taupo
Rotorua
Pukekama
Auckland
Em Aukland, chegamos e fomos direto devolver o carro e fomos para o Hostel. Ou seja, aqui nós voltamos ao nosso esporte favorito: andar a pé. Nesse primeiro dia, demos um passeio completo pelo centro da cidade, com direito a um delicioso hambúrguer com beterraba. Muito bom. E aqui conhecemos o terceiro brasileiro, o Paulo, que trabalha na recepção do hostel. Gente boa. Corintiano, mas gente boa. Kkkkkk, brincadeirinha. Mora aqui a mais de 5 anos, não volta mais para o Brasil e ainda recomenda a Nova Zelândia. Gostei da conversa, valeu. Amanhã vamos ficar por aqui, relaxar e aguardar o voou final dessa aventura.

Este é o nosso último destino. Daqui voltamos para casa.


Valeu.

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