Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A minha volta ao mundo

O que parecia uma grande loucura e um sonho distante se tornou a mais pura realidade. E nós fizemos, abrimos um parêntese em nossas rotinas para viver o melhor ano de nossas vidas. Uma volta ao mundo, um ato de coragem, uma realização imensa, uma vivência como jamais tínhamos imaginado. Sempre gostamos de viajar e achávamos que dar uma volta ao mundo seria como juntar 12 férias e viajar por aí. A verdade é que passar um ano mochilando por países pouco convencionais com orçamento limitado foi uma experiência de vida. Uma experiência linda, que emociona e que transforma. Não foi apenas uma viagem para conhecer lugares, foi uma jornada para conhecer pessoas, para acreditar no bem, na força e na fé. Conhecer modos de vida tão diferentes do que estamos acostumados me levou a várias reflexões do que achamos que é certo ou errado. Foi uma viagem dentro de nós mesmos, desafiando nossas referencias todos os dias. Vi meu outro lado, mais legal, mais divertido, que sorri mais, que se preocupa menos, que topa qualquer coisa e que precisa de pouco, mas de muito pouco para ser feliz.


A nossa rotina passou a ver e a sentir o novo todos os dias. Cada dia uma descoberta, cada dia uma surpresa, cada dia um pensamento. O tempo foi nosso maior aliado nesse ano, tivemos tempo para nós mesmos, para fazer o que quiséssemos, do jeito que quiséssemos, quando quiséssemos. Um sentimento de liberdade, de aventura, de incerteza de onde íamos dormir a cada noite. Um desafio de tomar decisões todos os dias, de compartilhar e de amar.

Tenho um milhão de lembranças que agora, passados 12 meses, já parecem distantes. Vi o mundo de diferentes perspectivas, de cima de um balão na Capadocia, debaixo do mar na barreira de corais de Cairns, nas areias do deserto do Saara. Me emocionei quando me deparei com a energia do Muro das Lamentações em Jerusalém, com a suntuosidade do TemploTodaiji em Nara e quando contemplei a pureza do amanhecer no Taj Mahal. Descobri o valor de um sonho realizado quando caminhamos por 13 dias no trekking até o campo base do Everest. E a simplicidade e o sorriso de Myanmar não saem da minha cabeça.

Conhecemos o outro lado da nossa cara metade, a verdade nua e crua sem retoques. Não foram poucas as vezes que contamos até 10, nossa palavra chave foi paciência. Nosso amor ficou “cascudo”, nada de conto de fadas, de príncipe e princesa. Mas junto com isso veio uma cumplicidade e um companheirismo que talvez nunca descobríssemos se estivéssemos em nossa casa. Antes de sair do Brasil brincamos que se conseguíssemos voltar juntos, ficaríamos juntos o resto da vida. Acho que deve ser nosso destino.

Percebi algumas pequenas coisas que me enchem de prazer: andar descalça, sentir o cheiro de arroz recém cozido, acordar sem despertador, comer batata frita. Faz um ano que não uso salto alto nem maquiagem. O mesmo tempo que não corto cabelo nem pinto minhas unhas. Descobri o prazer da leitura e da televisão desligada. Escrever o blog foi uma descoberta, vi uma forma de conversar comigo mesma e organizar meus sentimentos, logo eu que não sou de falar sobre eles, me peguei escrevendo sobre minhas emoções mais genuinas.

Estou escrevendo com um aperto no coração como nunca senti antes. A emoção do sonho estar terminando me faz olhar pra tras e reviver tudo que passamos nesses últimos meses. Um ano sensacional. Meu olhar sobre o mundo mudou, tenho novas referencias e novos significados. Minha alma esta mais leve.

O outro lado é que também queremos voltar. Estamos com saudades das pessoas queridas que fazem parte do nosso dia a dia, da comida brasileira, da nossa casa, da nossa rotina e até mesmo do mundo corporativo.


A verdade é que a viagem não tem fim. O que vimos, vivemos e sentimos vão ficar para sempre em nossas memorias. Voltamos felizes e realizados de um grande sonho. E agradecidos, muito agradecidos, por termos vivido tudo isso em um mundo realmente maravilhoso. 

The Last one

Bom pessoal,

Um ano parece muito, mas passa rápido. O nosso também passou e agora o sabático está chegando ao fim. Estamos voltando para casa.



Foi um ano muito intenso. Em todos os sentidos. Vi muitas coisas, lugares que queria, lugares que nem imaginava que existiam, experimentei muitas comidas, muitas bebidas, muitos sentimentos, sensações, prazeres. Conheci muitas pessoas, fiz alguns amigos, escutei muitas histórias, vivi muitas culturas. E aprendi muita coisa pelo caminho, sobre os lugares por onde passei, sobre as pessoas que vivem nesses lugares, sobre mim e sobre a Raquel.

Vivenciar isso tudo a dois foi muito difícil e prazeroso ao mesmo tempo. Difícil porque não somos iguais, pensamos diferente, agimos diferente e muitas vezes não nos entendemos. Mas às vezes nem eu me entendo. E prazeroso porque eu a amo, ela é minha melhor companhia e companheira. Gostamos das mesmas coisas, respeitamos um ao outro e adoramos estar juntos. Foi maravilhoso compartilhar todos os momentos bons, os ruins, todos os lugares, todas as sensações, todas as conversas, todos os silêncios, tudo. Absolutamente tudo.

Li um texto que dizia que você só descobre o real sentido de uma viagem, depois que você volta e coloca a cabeça no seu travesseiro. Acho que é isso mesmo. Ainda não coloquei a cabeça no meu travesseiro e ainda não sei dizer, enumerar, classificar, quantificar, elucidar, identificar ou mesmo imaginar o real sentido que esse ano vai representar na minha vida. Resumir em uma palavra, um sentimento, um lugar, um momento, será impossível. Foi um ano inesquecível, bem vivido, bem curtido, sem obrigações e com compromissos somente com nós mesmos.

Valeu.

Nova Zelândia: Keep Left

Bom pessoal,

Keep Left: esse foi o principal aviso que recebi aqui. E o mais importante também. Chegamos no sábado na cidade de Christchurch e já no domingo alugamos nossa Campervan, ou seja, um carro (uma pequena van) que era nosso transporte, restaurante e hotel tudo no mesmo lugar e em qualquer lugar. E como aqui eles dirigem do lado “errado” da rua (esquerdo), esse foi o conselho que mais ouvi na locadora, no posto de gasolina e pelas rodovias. E apesar do receio inicial de dirigir do lado esquerdo, até que me acostumei rápido, somente trocava a alavanca da lanterna (sinaleira) com a do limpador de para-brisa que também ficam trocado. No mais tudo certo. E já aviso que as rodovias daqui foram as mais bonitas que já andei e portanto as fotos devem ficar um pouco repetitivas.

Chegamos na cidade de Christchurch na madrugada do sábado e nos hospedamos em um hostel em quarto compartilhado. Eram cinco camas. Chegamos no hostel as 2 da manhã e acordamos todos as outras 3 pessoas que estavam por lá mesmo tentando não incomodar e fomos direto dormir. Com dia claro fomos conhecer a cidade ou o que resta dela, infelizmente. Acho que essa é a maior cidade da ilha sul mas ela foi assolada por dois terremotos nos anos de 2010 e 2011. O primeiro não fez muitos estragos mas o segundo praticamente destruiu todo o centro antigo, deixando-o praticamente sem construções. São vários quarteirões vazios ou com prédios abandonados/condenados e outros com máquinas de construção. Mas aqui era só uma parada para começar nossa aventura. Como já falei, no domingo alugamos uma Campervan e partimos para o sul e para o desconhecido.

Centro de Christchurch
Pegamos o carro no domingo à tarde e eu não queria dirigir muito tempo no primeiro dia. Só pra me acostumar. Fomos primeiro ao supermercado, garantir o jantar, e partimos com destino a cidade (zinha) de Waimate, na costa leste da ilha sul. Existe uma estrutura de camping na Nova Zelândia que é inacreditável. Deve ser o paraíso para quem gosta desse tipo de viagem. Existem camping cinco estrelas com uma estrutura de facilidades e de lazer completa (onde se paga de 11 a 45 dólares por pessoa) e também camping públicos com apenas o banheiro e nada de banho (onde se paga entre 6 a 10 dólares por pessoa). E eles estão em todo lugar. O nosso primeiro camping era da categoria low cost mas não era público, ou seja, tinha banho quente e cozinha mas nada mais, no meio de um parque. Tinham uns outros 4 carros estacionados e pela estrutura que tinham ao redor parecia que as pessoas moravam ali. Estacionamos e fomos “verificar” como a coisa funcionava e na entrada do banheiro tinha uma “Caixa da Honestidade” (Honest Box) e as instruções de o que pode e o que não pode e o preço por pessoa (11 dólares). Daí apareceu um tiozinho de um desses carros e nos entregou um envelope onde deveríamos colocar o dinheiro, algumas informações: nome, procedência, número da placa do carro e depois colocar na tal caixa. Simples assim. Tomamos banho, jantamos na cozinha do camping e depois fomos dormir. E assim passamos nossa primeira noite na campervan. Dormi com uma preocupação, acho que natural, em relação a segurança, se tudo ia correr bem, se ninguém ia aparecer durante a noite, se podíamos confiar, essas coisas, coisas de primeira vez. E foi isso mesmo, só pensei isso nessa noite.

Primeiro camping
O dia seguinte amanheceu bastante nublado e permaneceu assim até o dia seguinte. Seguimos viagem com destino ao sul e passamos pela cidade de Oamaru, uma cidade histórica com prédios antigos, de arquitetura inglesa e uma praia onde aparecem pinguins e leões marinhos. Seguimos viagem e paramos na estrada para almoçar. Existem pequenos campings na estrada onde se pode parar mas não se pode pernoitar. Depois do almoço chegamos a cidade de Dunedin, uma grande cidade com um i-site, um centro de informações turísticas (toda cidade aqui tem uma). Entramos e depois de pegar alguns panfletos fui pedir informações sobre os preços dos campings na cidade. A mulher que nos atendeu nos informou sobre todos os campings na cidade, mas eu perguntei sobre um outro na cidade vizinha, como ela não sabia, pegou o telefone e ligou, se informou (e era mais barato) e ainda fez a reserva para nós. Fiquei impressionado e fã. Agora em toda cidade a primeira coisa que fazemos é ir no i-site se temos alguma dúvida.

Segundo camping
Fomos recebido por um senhor, no seu trailer, que nos informou todas as regras e onde poderíamos estacionar. Era um camping urbano completo com cozinha, banheiro, lavandeira, TV, ao lado de uma piscina pública e de uns campos de futebol ou rúgbi ou críquete, tanto faz. Quando estávamos jantando, um casal de franceses de 20 e poucos anos chegou e começamos a conversar. Eles estavam fazendo exatamente o caminho inverso do nosso e nos deram várias dicas, principalmente sobre a região dos fiordes. Essa foi a noite mais fria de todas. Aqui é final de verão, como no Brasil, mas as temperaturas são iguais as da Patagônia (mediano 45), então durante à noite elas caem até 5 graus ou mais. Durante o dia, se fizer sol, a temperatura fica em torno de 20 ou 25 graus. No dia seguinte atravessamos a ilha para o lado oeste e viajamos até a cidade de Te Anau, na região dos Fiordes. A cidade é muito bonita com excelente estrutura mas a principal atividade aqui é ir para Milford Sound e fazer um cruzeiro pelos fiordes. A dica aqui era para chegar cedo, antes da 9 da manhã para pegar o primeiro cruzeiro que além de mais barato tem poucos turistas. Mas como Milford Sound fica a 120 quilômetros de Te Anau ou 2 horas de viagem pela mais bela rodovia que já tinha andado até esse dia, resolvemos ficar em um camping público no meio do caminho. Seria nosso primeiro camping de verdade: Cascade Creck, um campo aberto com apenas banheiros e nada mais. Banheiro tipo banheiro químico mas quando você abria a tampa do vaso dava para ver o buraco meio cheio meio vazio de tudo que é coisa que faz em um banheiro. Mas não tinha cheiro. Menos mal. Estacionamos, pagamos, arrumamos nossa mesinha, a Raquel fez uma sopa, jantamos tomando vinho e às 9:00hs fomos dormir. A noite foi fria mas muito tranquila, acordamos quase as 7:30h, e saímos correndo para conseguir chegar em Milford Sound a tempo. Pegamos o barco das 9:15h e fizemos um cruzeiro de quase 2 horas. Valeu muito. O cruzeiro já teria valido o passeio mas a estrada foi o melhor. As paisagens, as montanhas, os desfiladeiros, as curvas e até mesmo o túnel foram surpreendente. Voltamos para Te Anau, passamos no supermercado e fomos para um camping com estrutura total para, primeiro, fazer um churrasco e segundo para tomar banho. Compramos umas asinhas de frango com molho teriaki e dois bifes de 400 gramas cada. Não conseguimos comer tudo. O segundo bife ficou para o dia seguinte.






Manhã do dia do nosso aniversário
E o dia seguinte amanheceu sem nenhuma nuvem no céu. Era o dia do nosso aniversário de 10 anos de casado e estava perfeito. Tudo azul. Azul Céu de Brasília. E assim seguimos para Queenstown, um destino obrigatório para quem vem a Nova Zelândia. A cidade dos esportes e aventuras radicais. Mas não fizemos nada radical. Talvez a coisa mais radical que fizemos aqui foi ficar 2 dias sem banho, mas isso não pode ser considerado exatamente uma coisa radical depois dos oito dias que passamos no Nepal. Queenstown fica às margens do lago Wakatipu, na parte central do lago. Viemos pelo sul e começamos a parte mais bonita de todo o caminho por Kingston. Desde Kingston até Queenstown o visual é deslumbrante. O lago, as montanhas, as cidades, o céu azul, tudo em perfeita harmonia. Paramos para almoçar em Kingston e depois seguimos, vagarosamente, em direção a Queenstown. Paramos várias vezes para fazer fotos. Chegando na cidade e vimos como ela é turística. O centrinho é cheio de lojas de todo tipo, restaurantes para todos os gostos, hotéis para todos os bolsos. Mas nós queríamos mesmo era ficar em um lugar barato e com vista para o lago. Então resolvemos fazer assim: economizamos no camping e gastamos tudo no jantar de aniversário. Fomos para um camping público, sem estrutura (apenas banheiro e água corrente), barato (NZ$ 20,00) e gastamos as economias no jantar. Compramos queijos, champanhe, carne, frango, vinho e pão. Quer mais o quê? Fizemos uma entradinha com os queijos, o pão e o champanhe e depois fiz um churrasco e bebemos vinho. Tudo ao ar livre. Não tomamos banho mas dormimos bem satisfeitos e ainda por cima, vendo as estrelas, porque caso ainda não tenho contado, nosso carro tem teto-solar. E toda vez que eu acordava durante a noite e olhava para cima, via as estrelas. Era até difícil voltar a dormir. Ficava só admirando.




Nosso jantar de aniversário
Depois do café, no dia seguinte, seguimos para Grenorchy para conhecer o lado norte do lago. E depois de lá seguimos até o Paradise. Esse é o nome do “vilarejo” seguinte. Voltamos para Queenstown e decidimos procurar um camping pago e com banho. Procuramos o camping pago mais barato (NZ$ 30,00) mas a muvuca era tanta que não quis ficar. A próxima opção nessa categoria custava NZ$ 50,00, impensável. Então a solução foi voltar para o camping público, sem estrutura mas com um visual maravilhoso. Mas só para garantir que o cheiro seria suportável, compramos também umas toalhinhas umedecidas. Tudo certo. E dessa vez comemos um espaguete à bolonhesa. Com vinho, claro.





No sábado houve um festival de vinho e comida local na cidade e também um encontro de Harley-Davidson. Às 10 horas da manhã, no centro da cidade, todas partiram para um passeio. Tinham mais de 200 motos. E seus felizes donos estavam todos, claro, de preto como manda o figurino. Não ficamos no festival e seguimos viagem com destino a Wanaka com passagem por Arrowtown, uma antiga cidade da época da corrida do ouro. E quem estavam lá? Todos os motoqueiros. A rua central foi fechada para que eles pudessem estacionar. E tinha cada figura. Seguimos viagem morro acima até a cidade de Wanaka. Aqui ficamos em um camping pago. Na cozinha, à noite, estávamos pensando que não tínhamos visto brasileiros pelo caminho. Somente em Queenstown mas não em campings, passando “necessidades”. Ai apareceu o Júlio, um cara de Santa Catarina que é mais maluco que nós. Ele estava (e está enquanto escrevo) viajando de bicicleta. Quando ele falou isso só lembrei da subida da serra até chegar em Wanaka. Devia ter umas quinze curvas-cotovelo de tão íngreme. “Devagarinho se chega”. Ele costuma pedalar 60 Km por dia em duas etapa, com parada para almoço. Tem tudo que precisa na bike: fogareiro, barraca, saco de dormir, comida. Pedala a mais de 20 anos mas não é profissional, só por diversão. Deu até vontade de comprar uma bike mas ela passou rápido. Resolvemos ficar mais uma noite na cidade mas em outro camping, um fora da cidade e com churrasqueira. Mais um churrasco. E nesta noite tínhamos que tomar uma decisão: seguir pela parte central ou tomar o rumo do lado oeste. Inicialmente iriamos para a costa oeste mas os franceses nos disseram que a parte central era mais bonita e com mais atrações. Resolvemos seguir o concelho deles e foi muito bom. 






De Wanaka seguimos com destino ao Mt. Cook. No caminho resolvemos parar em uma vinícola na estrada e experimentar o vinho local. O vinho era bem mais caro do estamos acostumados a pagar mas ficamos conversando com o dono da vinícola um bom tempo, fizemos uma pequena degustação e saímos satisfeitos. Paramos ainda em uma fazenda de salmão. Segundo eles a mais alta fazenda de salmão do mundo. Não sei se isso faz alguma diferença mas que o salmão era bom era. Era salmão fresco, sem congelamento. Compramos dois filezinhos para acompanhar o vinho especial. No caminho do parque tem um lago e o lago é inacreditavelmente AZUL. Um azul tão azul que parecia artificial. N parque ficamos o camping é público, mas tinha um espaço fechado que servia de cozinha, sem nenhum utensílio, só o espaço. Mas fizemos nosso jantar do modo tradicional, ao ar livre. Comemos o salmão, bebemos o vinho e fomos dormir. Durante a noite, às vezes soprava um vento tão forte que até o carro balançava, mas dormimos bem. Depois do café fomos conhecer o Mt. Cook mais de perto, uma caminhada de 3 horas ida e volta. O caminho é bem bonito, mas quando chegamos no lago, que tem um glacial e fica em frente ao monte, o vento era tão forte e frio, foi impossível ficar lá por mais de 10 minutos. Voltamos, almoçamos no camping e partimos com destino ao Lago Tekapo. O lago é famoso pela cor da água, que, na verdade, é da mesma cor do outro lado, o lago do Mt. Cook.



Chegamos por volta as 16 horas e depois de fazer o check-in fomos para o supermercado e compramos tudo para fazer mais um churrasco. E a área da churrasqueira no camping tinha a de melhor vista para o lago. Foi uma tarde/noite maravilhosa. Mas deixei para fotografar o lago no outro dia e durante a noite o tempo virou e a cor azul, prometida, estava cinza sem nenhuma beleza. Resolvemos ficar mais uma noite, não só por causa do tempo mas também porque o lugar era muito bom. Nessa noite, no jantar conhecemos o segundo brasileiro por aqui, na verdade uma brasileira. A Andreia é de São Paulo mas vive a 10 ano no Havaí e é uma triatleta profissional. Tinha vindo para a Austrália para uma competição e aproveitou para passear um pouco pela Nova Zelândia. Mas ela não faz triátlon comum, ela corre o Iron Man. São 3,8 Km de natação, 180 Km de bicicleta e mais uma Maratona (42 Km). Dá pra acreditar? Cansei só de pensar. E nós só comendo carne e bebendo vinho.



No dia seguinte, com o céu mais aberto revisitamos todos os lugares para ver o lago novamente e depois partimos com destino a Akaroa, uma cidadezinha na península de Banks, próximo a Christchurch. Esse foi a única cidade da Nova Zelândia que foi de colonização francesa. Depois de subir e descer montanhas e mais montanhas chegamos na cidade e fomos procurar um camping. Eram três as opções: a primeira teríamos que voltar uns 6 km e era a mais barata, a segunda era na cidade mas era a mais cara e a terceira era 6 km depois da cidade e tinha um preço razoável. Escolhemos a terceira opção e o camping ficava no final da estrada, encima de uma colina com vista para a baia e as montanhas. A cozinha ficava, estrategicamente, com as pias e o fogão virados para a lado mais bonito. E essa foi a mais bela vista que tivemos pelos campings que passamos (pelo menos na ilha sul). Muito bom o lugar. Tivemos uma excelente noite. No dia seguinte partimos para Christchurch pois no sábado tínhamos que devolver a Campervan e pegar o outro carro, agora um carro normal, para seguir viagem para a ilha norte. E pra fechar com chave de ouro essas duas semanas que passamos com a campervan, fizemos mais um churrasco com tudo que temos direito, inclusive duas garrafas de vinho.


Akaroa
No sábado devolvemos a campervan (rodamos mais de 2.500 Km com ela) e pegamos o carro. Esse segundo carro foi no esquema de realocação. Funciona assim: alguém aluga um carro em uma cidade e entrega em outra, então a empresa precisa retornar com o carro para a primeira cidade mas para isso eles precisam de um motorista, no caso eu. Eles cobraram um preço simbólico (5 dólares por dia), pagaram o ferry para o carro (para passar da ilha sul para a ilha norte) e nos deram cinco dias para fazer o trajeto. Fizemos os cálculos e 5 dias seria suficiente para fazer a viagem e ainda aproveitar alguns locais que queríamos ver. Antes do meio-dia seguimos viagem.

Nesses cinco dias fizemos muitas coisas e fomos a muitos lugares: dirigimos pela via costeira da região de Kaikoura, atravessamos a região dos vinhedos em Malborough, pegamos o ferry entre as duas ilhas, desde Picton até Wellington, assistimos a final da copa do mundo de criket entre Austrália e Nova Zelândia na praia de Paraparaumu (e depois de mais de 7 horas de jogo a Austrália se sagrou campeã), fomos no lago e na cachoeira em Taupo, vimos o Gaisel e sentimos o cheiro podre dos poços de lama na região termal de Rotorua e dormimos em um hostel/fazenda com vista privilegiada para o vale e para o narcer-do-sol em Pukekama (o mais bonito da ilha norte) antes de chegar em Auckland, a maior cidade. Andamos nessa etapa mais de 1.200Km, somados aos da primeira etapa, no todo, viajamos mais de 3.700 Km neste país de paisagens inesquecíveis.

Taupo
Rotorua
Pukekama
Auckland
Em Aukland, chegamos e fomos direto devolver o carro e fomos para o Hostel. Ou seja, aqui nós voltamos ao nosso esporte favorito: andar a pé. Nesse primeiro dia, demos um passeio completo pelo centro da cidade, com direito a um delicioso hambúrguer com beterraba. Muito bom. E aqui conhecemos o terceiro brasileiro, o Paulo, que trabalha na recepção do hostel. Gente boa. Corintiano, mas gente boa. Kkkkkk, brincadeirinha. Mora aqui a mais de 5 anos, não volta mais para o Brasil e ainda recomenda a Nova Zelândia. Gostei da conversa, valeu. Amanhã vamos ficar por aqui, relaxar e aguardar o voou final dessa aventura.

Este é o nosso último destino. Daqui voltamos para casa.


Valeu.

Final feliz na Nova Zelandia

Ah, e o final não poderia ter sido mais feliz. Finalizamos nossa volta ao mundo no país mais lindo de belezas naturais que já vimos. Montanhas, lagos, pastos, praias... azul, verde, amarelo... sol, neve, nuvem... para todos os lados que olhávamos tinha uma paisagem nos esperando, pronta, como se fosse uma pintura.

Milford Sound
A Nova Zelandia é dividida em ilhas sul e norte e tem no total pouco mais de 4 milhões de habitantes. A expectativa de vida para homens é de 82 anos e para mulheres 86. No sul, onde tem as paisagens mais bonitas, vive somente 30% da população, passávamos por cidades que só tinha a rua principal, uma igreja, um posto de gasolina, um supermercado e muitos senhores e senhoras trabalhando, sempre sorridentes e pronto para nos receber e ajudar.

Para conhecer a ilha sul alugamos uma campervan, ou seja, carro, cama e cozinha. Mas como era de mochileiro, ela era toda adaptada: a cama tinha que armar todos os dias e a cozinha na verdade era um cooler que funcionava com a bateria do carro, um fogareiro de uma boca com gas de tubo, uma churrasqueira com um botijão de 2 litros de gas e utensílios de plastico. É, podemos dizer que acampamos dentro do carro, em outras palavras, passamos perregue até os ultimos dias. E assim passamos 14 dias indo de um lado pro outro, dormindo sob as estrelas e cozinhando de frente para os lagos.

Nossa campervan
Nossa rotina era acordar lá pelas 8, quando o sol aparecia e dava coragem de sair da campervan, preparar nosso café da manha, sair pela estrada, parar para preparar nosso almoço em algum lugar cênico, mais estrada, passar no supermercado, procurar um campsite, tomar banho quando dava, preparar nossa janta sempre acompanhada de um vinho (esse foi nosso luxo, a janta poderia ser arroz com ovo, mas tínhamos vinho todas as noites) e dormir logo que o sol ia embora. Nunca dormimos tanto.

Pelas estradas tem campsites para todos os gostos. Os AAA tem banho quente, cozinha equipada, sala de TV e até internet. Em geral ficam na cidade e as vagas são mais apertadas, fica um carro do lado do outro e custam uma média de 30 dólares por noite. O outro estilo é mais natural, mais afastado, no meio de uma paisagem, um terrenão que você estaciona o carro onde quiser, umas mesinhas de pic nic ao ar livre, um banheiro de fossa e às vezes torneira com água. Custam 10 dólares que você mesmo coloca na “honesty box”. Um doce para quem acertar qual foi o nosso preferido.

Banheiro de fossa em um campsite a caminho de Milford Sound
O grande atrativo da ilha sul são as estradas e não as cidades. As paisagens me surpreendiam a cada dia. Acometida pelo final da viagem não foram poucas as vezes que me senti tocada pensando que mesmo após 1 ano continuava a me encantar com o novo todos os dias. As paisagens mais bonitas são as mais turísticas. Minhas preferidas foram as estradas para Milford Sound, Queenstown, Monte Cook e Lago Tekapo. Cada estrada um cenário, mil fotos e o sentimento que não conhecemos nada desse mundo.

Paisagem estrada de Dunedin a Milford Sound
Começamos nossa viagem em Christchurch e seguimos até Dunedin, indo na direção sul da ilha, cada vez mais fria. De lá atravessamos a ilha de leste a oeste para a região dos fiordes onde fizemos um passeio de barco por Milford Sound. Literalmente um rio no meio das montanhas. Seguimos para Te Anau onde paramos para nosso primeiro churrasco com soneca à tarde.

Christchurch

Camping Te Anau, nosso primeiro churrasco
A parada seguinte foi em Queenstown, cidade conhecida pelos esportes radicais. Preferimos nossa paisagem e nosso camping baratinho para aproveitar um dos dias de sol mais bonitos que tivemos em toda a viagem. Foi também o dia de comemoração do nosso aniversário de 10 anos de casamento. Compramos um espumante, vinho, queijos, azeitonas e cozinhamos um macarrãozinho. Ok, foi um dia sem banho, mas em um camping com uma das melhores vistas e o céu mais estrelado do país. Nunca tivemos uma comemoração tão especial.

Estrada para Queenstown

Glenorchy, perto de Queenstowm, cenário do Senhor dos Aneis

Estrada de Glenorchy e Queenstown
 
Nosso camping de comemoração do aniversário de casamento
Atravessamos a ilha de volta, agora sentido leste, e passamos pelas estradas do Monte Cook em outra tarde de sol junto ao lago mais azul que já vi. No caminho paramos em um lugar de cultivo de salmão e garantimos nossa janta que foi em outro camping simplinho, comendo salmão fresco no pé do Monte Cook. No dia seguinte fizemos um trekking até uma das geleiras da região, mas o tempo não ajudou e a visão acabou ficando prejudicada. 

Mais churrasco em Wanaka, entre Queenstown e Monte Cook

Almocinho em algum lugar

Caminho para Monte Cook, o lago mais azul que já vi

Estrada para Monte Cook

Comendo salmão no camping no pé do Monte Cook

Trekking para geleiras do Monte Cook
Entre um churrasco e outro, uma soneca e outra e uma preguiça e outra, fomos caminhando em direção ao Lago Tekapo que era para ter a mesma cor do lago do Monte Cook, mas com o ceu nublado não conseguimos vê-lo tão bonito assim. O que vimos foi o amanhecer mais lindo de toda a viagem, meio ao acaso, indo para o banheiro de manhãzinha (o sol nasce às 7 por aqui), nos deparamos com o céu todo colorido.

Camping do Lago Tekapo, mais churrasco

Lago Tekapo
Antes de voltar para Christchurch ainda fizemos um desvio até Akaroa, sem pretensões, era meio que para passar o tempo. E ainda assim, a paisagem continuou a nos surpreender. Querendo fugir de um camping no meio da cidade acima do nosso orçamento, pegamos uma estradinha de muitas curvas e achamos um camping no meio do nada, lá no alto do morro, super paz e amor, com uma visão linda da cidade. É certo que o que economizamos na diária gastamos em gasolina, mas a vista valeu a pena.

Baía de Akaroa
Depois de nos apegarmos à nossa campernvan chegou o dia de devolve-la e trocar de transporte para nossa ultima semana de viagem. E dessa vez usamos a grande babada de realocation car, ou seja, para rotas menos utilizadas as locadoras precisam de um motorista que leve o carro de volta para as cidades principais. Para isso oferecem o carro de graça ou quase de graça e ainda pagam algumas despesas. Pegamos um carro normal por 4 dólares o dia e ganhamos a travessia do carro no ferry entre as ilhas sul e norte que custaria cerca de 200 dólares. E assim iniciamos nossa subida na ilha norte até Auckland.

Com 70% da população do país, ou seja, pouco menos de 3 milhões de pessoas onde 1 milhão está em Auckland, passamos por “cidades grandes” e entramos em rodovias onde as paisagens não eram os principais atrativos. O destaque da ilha norte foi Rotorua, região vulcânica onde visitamos uma vila que sai fumaça de vapor por todos os lados. O prometido era ver o jato de agua vindo das pedras que atingia 40 metros de altura. Vimos um jato, de 10 metros e muita fumaça. Mesmo assim foi interessante, sentir o cheiro forte do lugar, ver piscinas de agua borbulhando e até a lama borbulhando.

Jato de água de Rotorua
Acabamos nos apegando a outra rotina, de cada dia comprar nosso vinhozinho e procurar um lugar barato para passar a noite. Trocamos os campsites pelos hostels com molecada. Mas eis que na nossa ultima noite de carro, já pertinho de Auckland, achamos um bom lugar para nos despedir. Nosso quarto era um container com vista para as montanhas. Mais nada. E quem precisava de mais alguma coisa àquela altura?

Janta com vista para as montanhas
Entregamos o carro em Auckland, cidade grande e movimentada. Agora à pé novamente ficaremos mais 2 dias andamos pelas ruas, nos despedindo do país e de todo um sonho que está a um passo de acabar. Hora de arrumar a mochila pela ultima vez, muito mais gasta, suja e leve do que há 1 ano e tomar nosso ultimo voo, ou últimos 3 voos, que somam 26 horas de volta. E estamos voltando pra casa, felizes e realizados.