Estamos em um ano sabático para conhecer o mundo e a nós mesmos. Para isso manteremos nossos olhos, mentes e corações atentos e abertos por onde estivermos. Toda semana faremos um relato do que passou e por onde passamos. Como tudo na vida tem dois lados, serão duas visões sobre os mesmos momentos.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

As mulheres coreanas

Pelas terras que andei, não me lembro de ter visto a mulher como força de trabalho predominante no dia a dia. Em geral são homens, quando muito, homens e mulheres de forma proporcional, e na maioria das vezes, as mulheres em atividades de backoffice. Mas na Coréia do Sul, quem está no front, dando a cara pra bater, trabalhando duro, o dia todo, fazendo de tudo, vendendo, atendendo, cozinhando, limpando peixe, carregando peso, preparando kimchi, são elas, as incríveis senhoras coreanas. Facilmente reconhecidas, tem em média 1,50 metros, são “fortinhas”, tem cabelo curto, enrolado, usam roupas coloridas e obrigatoriamente viseiras. Autenticas, parecem ser fortes, determinadas, sofridas e femininas. Todas usam maquiagem. Mas nem por isso são “ladies”, ocupam muito bem o seu espaço e não deixam ninguém passar na frente, seja na sua barraquinha  ou no metro. Em Seoul, elas dividem espaço com os homens, tornando a proporção mais igual, mas elas continuam lá, batalhadoras, com a única diferença de que saem as viseiras e entram as plásticas obrigatórias. Observá-las e imaginar que por trás dessa força tem uma história de sacrifícios que resultou na rápida ascensão da Coreia, onde essa geração foi sacrificada para que as próximas pudessem estudar e ter melhores condições, foi o destaque da Coreia. Fantástico.

Aliás o povo coreano é interessantíssimo. Eles parecem novos ricos, são deslumbrados, coloridos e barulhentos. Menos reservados do que os japoneses, eles tentam interagir, mesmo que em coreano, e sorriem mais. Parecem mais despachados, não tanto ligados às regras, vão dando o seu jeitinho em uma cultura mais ocidentalizada.

Depois de passar pelo “planeta Japão”, qualquer país do “planeta Terra” causa um certo choque ao nos lembrar que algumas coisas existem, como lixo, mendigos, trânsito e buzina.  Fizemos essa re-adaptação em duas cidades do interior da Coreia, onde tivemos dificuldade de comunicação e, pela primeira vez, de comida. Nossas restrições eram: tem que ter foto ou qualquer coisa em inglês (vejam que é um ou outro, nem precisa ser os dois), precisa ter pelo menos um prato que não leva pimenta e tem que ter uma carinha apresentável (e olha que deixamos de ser exigentes faz tempo). Pronto, isso reduziu para 10% nossas possibilidades de restaurantes. Fiquei irritada com o tempo que perdíamos procurando um lugar para comer, irritada com o porquê não estávamos conseguindo nos acostumar com a comida, irritada com a dificuldade de comunicação, irritada em saber que daqui pra frente a situação vai ser assim pra mais difícil. A irritação passou depois de 4 dias, quando chegamos em Seoul, aí sim, cidade grande, mais estruturada, mais informação, conseguimos nos situar e entrar na vibe coreana.

Passamos uma semana na Coreia, conhecendo Busan, Gyeongyu e Seoul. Em Busan conhecemos o famoso mercado de peixe onde se vê todas as criaturas marinhas, vivas ou mortas, de todos os tamanhos. Algumas barracas tem um restaurante anexo onde se pode escolher a criatura viva no aquário e o modo de preparo. O peixe vai quase se mexendo ainda para a mesa. E eu achando que só no Japão se comia peixe freso... Visitamos também as 2 praias mais famosas da cidade e andamos pelas ruas do centro comercial, cheias de lojas e camelôs vendendo de tudo, mas principalmente roupas esportivas bem coloridas.

Jagalchi Market

Gwangalli Beach

Gukje Market

De lá fomos para Gyeongyu, cidade que guarda a história da dinastia Silla, cheia de templos e vilas antigas. Quase todas as atrções  são reconstruídas após as inúmeras guerras que o país já passou, mas nem por isso tiram sua importância e beleza. O que se destaca são as tumbas dos reis e membros da família real que são como pirâmides de grama. Os corpos eram colocados em uma câmara de madeira junto com seus pertences e por cima colocavam pedras e uma coberta de grama, formando montinhos por toda a cidade. 

Daerengwon Royal Tombs

Visitamos o Palácio Anapji, fantástico com seu jardim e o jogo de luzes dourado dando um ar de riqueza e prosperidade. 

Palácio Anapji

A cidade também guarda vários patrimônios da Unesco, sendo dois deles o Templo Bulguksa e o Buda Seokguram Grotto, todo de mármore no alto de uma montanha. 

Nós 2 no jardim do Templo Bulguksa

O último programa do dia era conhecer uma vila que ainda mantém as características e os costumes antigos. A informação do guia era fácil, poderia tomar um dos 8 ônibus relacionados que se chegaria no local. O guia só esqueceu de falar que a vila ficava a uns 30 Km do centro da cidade, que teria que pegar estrada, que o ponto era na estrada, que ninguém falava inglês, que ninguém lia em romano e que, caso você perdesse o ponto da vila, o ponto final seria no fim do mundo e mais um pouco. Pois é, descobrimos tudo isso, fomos até o ponto final, trocamos de ônibus e voltamos para o centro da cidade sem ter visto a vila.

A última cidade que passamos foi Seoul. Cidade fácil, cheia de informações turísticas e cheia de turistas. Visitamos o principal palácio da cidade, Gyeongbokgung, e até aqui os coreanos são mais coloridos, nota-se cores em todos os detalhes do castelo. A troca da guarda é um espetáculo, são uns 6 guardas em cada turno, com vestimentas da época nas cores azul, vermelho e amarelo, quebrando aquela formalidade que vemos nas guardas dos palácios. 

Palácio e os detalhes coloridos

Visitamos uma vila antiga que ainda tem moradores, as casas são grandes e bem conservadas, na verdade nem parece tão antiga assim. 

Nós 2 na Bukchon Hanok Village

Mas o melhor de Seoul são os mercados, de comida, de roupas (parece a José Paulino), de tranqueiras, vendendo de tudo, de tudo que é jeito, de lojas bem chiques aos famosos camelôs.

No final, acabamos nos acostumando com a comida, variando entre o Bilimbap (arroz com legumes, carne e ovo) e o Bulgogi (carne fatiada fininha, marinada, que pode ser ensopada ou grelhada). Claro que o Kimchi (acelga apimentada que passa por um processo de fermentação) e seus derivados apimentados sempre estavam presentes, dando sabor à comida. É verdade que em uma noite decidimos abrir nosso “caixa 2” de novo e, dessa vez, era pra matar saudades da nossa comida brasileira. Pesquisamos e fomos atrás de uma das melhores churrascarias de Seoul. Depois de uma caminhada de 50 minutos descobrimos que ela havia sido fechada. Nos restou o Outback, artigo de luxo na nossa viagem, e lá eles estavam com um cardápio especial latino. Pudemos comer nossa picanha mal passada!!! No dia seguinte voltamos para os Bilimbap e Bulgogi.

Bulgogi na chapa e acompanhamentos

País que entrou no nosso roteiro simplesmente por estar entre o Japão e a China e que serviu de uma passagem gradual para o mundo que nos aguarda. Me surpreendi pela história de guerra e superação e fui conquistada pelo povo, pela força dos mais velhos e pela leveza dos mais jovens. Valeu a viagem. Fantástico.

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