Bom pessoal,
Keep Left: esse foi o principal
aviso que recebi aqui. E o mais importante também. Chegamos no sábado na cidade
de Christchurch e já no domingo alugamos nossa Campervan, ou seja, um carro
(uma pequena van) que era nosso transporte, restaurante e hotel tudo no mesmo
lugar e em qualquer lugar. E como aqui eles dirigem do lado “errado” da rua
(esquerdo), esse foi o conselho que mais ouvi na locadora, no posto de gasolina
e pelas rodovias. E apesar do receio inicial de dirigir do lado esquerdo, até
que me acostumei rápido, somente trocava a alavanca da lanterna (sinaleira) com
a do limpador de para-brisa que também ficam trocado. No mais tudo certo. E já
aviso que as rodovias daqui foram as mais bonitas que já andei e portanto as
fotos devem ficar um pouco repetitivas.
Chegamos na cidade de
Christchurch na madrugada do sábado e nos hospedamos em um hostel em quarto
compartilhado. Eram cinco camas. Chegamos no hostel as 2 da manhã e acordamos
todos as outras 3 pessoas que estavam por lá mesmo tentando não incomodar e
fomos direto dormir. Com dia claro fomos conhecer a cidade ou o que resta dela,
infelizmente. Acho que essa é a maior cidade da ilha sul mas ela foi assolada
por dois terremotos nos anos de 2010 e 2011. O primeiro não fez muitos estragos
mas o segundo praticamente destruiu todo o centro antigo, deixando-o
praticamente sem construções. São vários quarteirões vazios ou com prédios abandonados/condenados
e outros com máquinas de construção. Mas aqui era só uma parada para começar
nossa aventura. Como já falei, no domingo alugamos uma Campervan e partimos
para o sul e para o desconhecido.
 |
Centro de Christchurch |
Pegamos o carro no domingo à
tarde e eu não queria dirigir muito tempo no primeiro dia. Só pra me acostumar.
Fomos primeiro ao supermercado, garantir o jantar, e partimos com destino a
cidade (zinha) de Waimate, na costa leste da ilha sul. Existe uma estrutura de
camping na Nova Zelândia que é inacreditável. Deve ser o paraíso para quem
gosta desse tipo de viagem. Existem camping cinco estrelas com uma estrutura de
facilidades e de lazer completa (onde se paga de 11 a 45 dólares por pessoa) e
também camping públicos com apenas o banheiro e nada de banho (onde se paga
entre 6 a 10 dólares por pessoa). E eles estão em todo lugar. O nosso primeiro
camping era da categoria low cost mas não era público, ou seja, tinha banho
quente e cozinha mas nada mais, no meio de um parque. Tinham uns outros 4
carros estacionados e pela estrutura que tinham ao redor parecia que as pessoas
moravam ali. Estacionamos e fomos “verificar” como a coisa funcionava e na
entrada do banheiro tinha uma “Caixa da Honestidade” (Honest Box) e as
instruções de o que pode e o que não pode e o preço por pessoa (11 dólares).
Daí apareceu um tiozinho de um desses carros e nos entregou um envelope onde
deveríamos colocar o dinheiro, algumas informações: nome, procedência, número
da placa do carro e depois colocar na tal caixa. Simples assim. Tomamos banho,
jantamos na cozinha do camping e depois fomos dormir. E assim passamos nossa
primeira noite na campervan. Dormi com uma preocupação, acho que natural, em
relação a segurança, se tudo ia correr bem, se ninguém ia aparecer durante a
noite, se podíamos confiar, essas coisas, coisas de primeira vez. E foi isso
mesmo, só pensei isso nessa noite.
 |
Primeiro camping |
O dia seguinte amanheceu bastante
nublado e permaneceu assim até o dia seguinte. Seguimos viagem com destino ao
sul e passamos pela cidade de Oamaru, uma cidade histórica com prédios antigos,
de arquitetura inglesa e uma praia onde aparecem pinguins e leões marinhos.
Seguimos viagem e paramos na estrada para almoçar. Existem pequenos campings na
estrada onde se pode parar mas não se pode pernoitar. Depois do almoço chegamos
a cidade de Dunedin, uma grande cidade com um i-site, um centro de informações
turísticas (toda cidade aqui tem uma). Entramos e depois de pegar alguns
panfletos fui pedir informações sobre os preços dos campings na cidade. A
mulher que nos atendeu nos informou sobre todos os campings na cidade, mas eu
perguntei sobre um outro na cidade vizinha, como ela não sabia, pegou o
telefone e ligou, se informou (e era mais barato) e ainda fez a reserva para
nós. Fiquei impressionado e fã. Agora em toda cidade a primeira coisa que
fazemos é ir no i-site se temos alguma dúvida.
 |
Segundo camping |
Fomos recebido por um senhor, no
seu trailer, que nos informou todas as regras e onde poderíamos estacionar. Era
um camping urbano completo com cozinha, banheiro, lavandeira, TV, ao lado de
uma piscina pública e de uns campos de futebol ou rúgbi ou críquete, tanto faz.
Quando estávamos jantando, um casal de franceses de 20 e poucos anos chegou e
começamos a conversar. Eles estavam fazendo exatamente o caminho inverso do
nosso e nos deram várias dicas, principalmente sobre a região dos fiordes. Essa
foi a noite mais fria de todas. Aqui é final de verão, como no Brasil, mas as
temperaturas são iguais as da Patagônia (mediano 45), então durante à noite
elas caem até 5 graus ou mais. Durante o dia, se fizer sol, a temperatura fica
em torno de 20 ou 25 graus. No dia seguinte atravessamos a ilha para o lado
oeste e viajamos até a cidade de Te Anau, na região dos Fiordes. A cidade é
muito bonita com excelente estrutura mas a principal atividade aqui é ir para
Milford Sound e fazer um cruzeiro pelos fiordes. A dica aqui era para chegar
cedo, antes da 9 da manhã para pegar o primeiro cruzeiro que além de mais
barato tem poucos turistas. Mas como Milford Sound fica a 120 quilômetros de Te
Anau ou 2 horas de viagem pela mais bela rodovia que já tinha andado até esse
dia, resolvemos ficar em um camping público no meio do caminho. Seria nosso
primeiro camping de verdade: Cascade Creck, um campo aberto com apenas
banheiros e nada mais. Banheiro tipo banheiro químico mas quando você abria a
tampa do vaso dava para ver o buraco meio cheio meio vazio de tudo que é coisa
que faz em um banheiro. Mas não tinha cheiro. Menos mal. Estacionamos, pagamos,
arrumamos nossa mesinha, a Raquel fez uma sopa, jantamos tomando vinho e às
9:00hs fomos dormir. A noite foi fria mas muito tranquila, acordamos quase as
7:30h, e saímos correndo para conseguir chegar em Milford Sound a tempo.
Pegamos o barco das 9:15h e fizemos um cruzeiro de quase 2 horas. Valeu muito.
O cruzeiro já teria valido o passeio mas a estrada foi o melhor. As paisagens,
as montanhas, os desfiladeiros, as curvas e até mesmo o túnel foram
surpreendente. Voltamos para Te Anau, passamos no supermercado e fomos para um
camping com estrutura total para, primeiro, fazer um churrasco e segundo para
tomar banho. Compramos umas asinhas de frango com molho teriaki e dois bifes de
400 gramas cada. Não conseguimos comer tudo. O segundo bife ficou para o dia
seguinte.





 |
Manhã do dia do nosso aniversário |
E o dia seguinte amanheceu sem
nenhuma nuvem no céu. Era o dia do nosso aniversário de 10 anos de casado e estava
perfeito. Tudo azul. Azul Céu de Brasília. E assim seguimos para Queenstown, um
destino obrigatório para quem vem a Nova Zelândia. A cidade dos esportes e
aventuras radicais. Mas não fizemos nada radical. Talvez a coisa mais radical
que fizemos aqui foi ficar 2 dias sem banho, mas isso não pode ser considerado exatamente
uma coisa radical depois dos oito dias que passamos no Nepal. Queenstown fica
às margens do lago Wakatipu, na parte central do lago. Viemos pelo sul e
começamos a parte mais bonita de todo o caminho por Kingston. Desde Kingston
até Queenstown o visual é deslumbrante. O lago, as montanhas, as cidades, o céu
azul, tudo em perfeita harmonia. Paramos para almoçar em Kingston e depois
seguimos, vagarosamente, em direção a Queenstown. Paramos várias vezes para
fazer fotos. Chegando na cidade e vimos como ela é turística. O centrinho é
cheio de lojas de todo tipo, restaurantes para todos os gostos, hotéis para
todos os bolsos. Mas nós queríamos mesmo era ficar em um lugar barato e com
vista para o lago. Então resolvemos fazer assim: economizamos no camping e
gastamos tudo no jantar de aniversário. Fomos para um camping público, sem
estrutura (apenas banheiro e água corrente), barato (NZ$ 20,00) e gastamos as
economias no jantar. Compramos queijos, champanhe, carne, frango, vinho e pão.
Quer mais o quê? Fizemos uma entradinha com os queijos, o pão e o champanhe e
depois fiz um churrasco e bebemos vinho. Tudo ao ar livre. Não tomamos banho
mas dormimos bem satisfeitos e ainda por cima, vendo as estrelas, porque caso
ainda não tenho contado, nosso carro tem teto-solar. E toda vez que eu acordava
durante a noite e olhava para cima, via as estrelas. Era até difícil voltar a
dormir. Ficava só admirando.



 |
Nosso jantar de aniversário |
Depois do café, no dia seguinte,
seguimos para Grenorchy para conhecer o lado norte do lago. E depois de lá
seguimos até o Paradise. Esse é o nome do “vilarejo” seguinte. Voltamos para
Queenstown e decidimos procurar um camping pago e com banho. Procuramos o
camping pago mais barato (NZ$ 30,00) mas a muvuca era tanta que não quis ficar.
A próxima opção nessa categoria custava NZ$ 50,00, impensável. Então a solução
foi voltar para o camping público, sem estrutura mas com um visual maravilhoso.
Mas só para garantir que o cheiro seria suportável, compramos também umas
toalhinhas umedecidas. Tudo certo. E dessa vez comemos um espaguete à
bolonhesa. Com vinho, claro.



No sábado houve um festival de
vinho e comida local na cidade e também um encontro de Harley-Davidson. Às 10
horas da manhã, no centro da cidade, todas partiram para um passeio. Tinham
mais de 200 motos. E seus felizes donos estavam todos, claro, de preto como
manda o figurino. Não ficamos no festival e seguimos viagem com destino a
Wanaka com passagem por Arrowtown, uma antiga cidade da época da corrida do
ouro. E quem estavam lá? Todos os motoqueiros. A rua central foi fechada para
que eles pudessem estacionar. E tinha cada figura. Seguimos viagem morro acima
até a cidade de Wanaka. Aqui ficamos em um camping pago. Na cozinha, à noite,
estávamos pensando que não tínhamos visto brasileiros pelo caminho. Somente em
Queenstown mas não em campings, passando “necessidades”. Ai apareceu o Júlio,
um cara de Santa Catarina que é mais maluco que nós. Ele estava (e está
enquanto escrevo) viajando de bicicleta. Quando ele falou isso só lembrei da
subida da serra até chegar em Wanaka. Devia ter umas quinze curvas-cotovelo de
tão íngreme. “Devagarinho se chega”. Ele costuma pedalar 60 Km por dia em duas
etapa, com parada para almoço. Tem tudo que precisa na bike: fogareiro,
barraca, saco de dormir, comida. Pedala a mais de 20 anos mas não é
profissional, só por diversão. Deu até vontade de comprar uma bike mas ela
passou rápido. Resolvemos ficar mais uma noite
na cidade mas em outro camping, um fora da cidade e com churrasqueira. Mais um
churrasco. E nesta noite tínhamos que tomar uma decisão: seguir pela parte
central ou tomar o rumo do lado oeste. Inicialmente iriamos para a costa oeste
mas os franceses nos disseram que a parte central era mais bonita e com mais
atrações. Resolvemos seguir o concelho deles e foi muito bom.





De Wanaka
seguimos com destino ao Mt. Cook. No caminho resolvemos parar em uma vinícola
na estrada e experimentar o vinho local. O vinho era bem mais caro do estamos
acostumados a pagar mas ficamos conversando com o dono da vinícola um bom
tempo, fizemos uma pequena degustação e saímos satisfeitos. Paramos ainda em
uma fazenda de salmão. Segundo eles a mais alta fazenda de salmão do mundo. Não
sei se isso faz alguma diferença mas que o salmão era bom era. Era salmão
fresco, sem congelamento. Compramos dois filezinhos para acompanhar o vinho
especial. No caminho do parque tem um lago e o lago é inacreditavelmente AZUL.
Um azul tão azul que parecia artificial. N parque ficamos o camping é público,
mas tinha um espaço fechado que servia de cozinha, sem nenhum utensílio, só o espaço.
Mas fizemos nosso jantar do modo tradicional, ao ar livre. Comemos o salmão,
bebemos o vinho e fomos dormir. Durante a noite, às vezes soprava um vento tão
forte que até o carro balançava, mas dormimos bem. Depois do café fomos
conhecer o Mt. Cook mais de perto, uma caminhada de 3 horas ida e volta. O
caminho é bem bonito, mas quando chegamos no lago, que tem um glacial e fica em
frente ao monte, o vento era tão forte e frio, foi impossível ficar lá por mais
de 10 minutos. Voltamos, almoçamos no camping e partimos com destino ao Lago
Tekapo. O lago é famoso pela cor da água, que, na verdade, é da mesma cor do
outro lado, o lago do Mt. Cook.

Chegamos por volta as 16 horas e
depois de fazer o check-in fomos para o supermercado e compramos tudo para
fazer mais um churrasco. E a área da churrasqueira no camping tinha a de melhor
vista para o lago. Foi uma tarde/noite maravilhosa. Mas deixei para fotografar
o lago no outro dia e durante a noite o tempo virou e a cor azul, prometida,
estava cinza sem nenhuma beleza. Resolvemos ficar mais uma noite, não só por
causa do tempo mas também porque o lugar era muito bom. Nessa noite, no jantar
conhecemos o segundo brasileiro por aqui, na verdade uma brasileira. A Andreia
é de São Paulo mas vive a 10 ano no Havaí e é uma triatleta profissional. Tinha
vindo para a Austrália para uma competição e aproveitou para passear um pouco
pela Nova Zelândia. Mas ela não faz triátlon comum, ela corre o Iron Man. São
3,8 Km de natação, 180 Km de bicicleta e mais uma Maratona (42 Km). Dá pra
acreditar? Cansei só de pensar. E nós só comendo carne e bebendo vinho.

No dia seguinte, com o céu mais
aberto revisitamos todos os lugares para ver o lago novamente e depois partimos
com destino a Akaroa, uma cidadezinha na península de Banks, próximo a
Christchurch. Esse foi a única cidade da Nova Zelândia que foi de colonização
francesa. Depois de subir e descer montanhas e mais montanhas chegamos na
cidade e fomos procurar um camping. Eram três as opções: a primeira teríamos
que voltar uns 6 km e era a mais barata, a segunda era na cidade mas era a mais
cara e a terceira era 6 km depois da cidade e tinha um preço razoável.
Escolhemos a terceira opção e o camping ficava no final da estrada, encima de
uma colina com vista para a baia e as montanhas. A cozinha ficava,
estrategicamente, com as pias e o fogão virados para a lado mais bonito. E essa
foi a mais bela vista que tivemos pelos campings que passamos (pelo menos na
ilha sul). Muito bom o lugar. Tivemos uma excelente noite. No dia seguinte
partimos para Christchurch pois no sábado tínhamos que devolver a Campervan e
pegar o outro carro, agora um carro normal, para seguir viagem para a ilha
norte. E pra fechar com chave de ouro essas duas semanas que passamos com a
campervan, fizemos mais um churrasco com tudo que temos direito, inclusive duas
garrafas de vinho.

 |
Akaroa |
No sábado devolvemos a campervan (rodamos
mais de 2.500 Km com ela) e pegamos o carro. Esse segundo carro foi no esquema
de realocação. Funciona assim: alguém aluga um carro em uma cidade e entrega em
outra, então a empresa precisa retornar com o carro para a primeira cidade mas
para isso eles precisam de um motorista, no caso eu. Eles cobraram um preço
simbólico (5 dólares por dia), pagaram o ferry para o carro (para passar da
ilha sul para a ilha norte) e nos deram cinco dias para fazer o trajeto. Fizemos
os cálculos e 5 dias seria suficiente para fazer a viagem e ainda aproveitar
alguns locais que queríamos ver. Antes do meio-dia seguimos viagem.
Nesses cinco dias fizemos muitas
coisas e fomos a muitos lugares: dirigimos pela via costeira da região de Kaikoura,
atravessamos a região dos vinhedos em Malborough, pegamos o ferry entre as duas
ilhas, desde Picton até Wellington, assistimos a final da copa do mundo de
criket entre Austrália e Nova Zelândia na praia de Paraparaumu (e depois de
mais de 7 horas de jogo a Austrália se sagrou campeã), fomos no lago e na
cachoeira em Taupo, vimos o Gaisel e sentimos o cheiro podre dos poços de lama
na região termal de Rotorua e dormimos em um hostel/fazenda com vista
privilegiada para o vale e para o narcer-do-sol em Pukekama (o mais bonito da
ilha norte) antes de chegar em Auckland, a maior cidade. Andamos nessa etapa
mais de 1.200Km, somados aos da primeira etapa, no todo, viajamos mais de 3.700
Km neste país de paisagens inesquecíveis.
 |
Taupo |
 |
Rotorua |
 |
Pukekama |
 |
Auckland |
Em Aukland, chegamos e fomos
direto devolver o carro e fomos para o Hostel. Ou seja, aqui nós voltamos ao
nosso esporte favorito: andar a pé. Nesse primeiro dia, demos um passeio
completo pelo centro da cidade, com direito a um delicioso hambúrguer com
beterraba. Muito bom. E aqui conhecemos o terceiro brasileiro, o Paulo, que trabalha
na recepção do hostel. Gente boa. Corintiano, mas gente boa. Kkkkkk, brincadeirinha. Mora aqui a mais
de 5 anos, não volta mais para o Brasil e ainda recomenda a Nova Zelândia. Gostei da conversa, valeu. Amanhã
vamos ficar por aqui, relaxar e aguardar o voou final dessa aventura.
Este é o nosso último destino.
Daqui voltamos para casa.
Valeu.